Idade Média?

“Idade Média”, ”História Medieval” ou “Medievo” são referências a um período da história europeia, compreendido entre os séculos V e XV. Transição da Antiguidade para a Modernidade.
A Idade Média foi um período de intensas transformações. Há um novo sistema econômico, baseado no campo, o feudalismo, que não se aplicara de forma igual em todos os lugares; divisões religiosas, presentes dentro da Igreja Católica e no Islamismo; revoltas camponesas que objetivaram melhores condições de vida; intensas disputas por poder, por ascensão hierárquica; guerras por questões religiosas e econômicas e tantos outros fatores, por vezes ocultos por um saber estereotipado do período, restrito à cegueira mística do domínio religioso ou ao encantamento inventivo da sociedade cavalheiresca, seus castelos, lendas e maravilhas.
Na sociedade contemporânea, há uma grande valorização desse período, sobretudo na indústria cinematográfica. A presença de filmes com essa temática é a cada dia mais comum. E junto com esta “febre de Idade Média” em Hollywood, nascem algumas questões: Em que medida esses filmes nos ajudam a compreender a história medieval? Como devemos assisti-los? De forma passiva, como puro entretenimento? Certamente não. Ou, pelo contrário, como críticos intolerantes, cobrando-lhes a precisão dos textos acadêmicos? Tampouco. Talvez mais do que buscar fidelidade absoluta à historiografia, possamos encontrar nestes filmes faíscas para um debate em sala de aula: que imperfeições merecem ser problematizadas? Quais imagens ajudam a melhor assimilar lógicas distantes de um passado longínquo? Como transcender uma interpretação exclusivamente narrativa dos filmes para ir ao encontro de indícios de sua produção, relacionados, portanto, ao presente em que foram feitos, o que os torna não mais uma forma de historiografia, mas documentos, fontes para uma história do tempo presente.
Conhecer a “Idade Média dos dias de hoje” – a ideia que dela se faz atualmente – é um desafio que pode ser vencido através de um contato mais efetivo com a filmografia que a cerca. Mais do que conhecer as dinâmicas daquele período distante que demarca o nascimento do Ocidente, é preciso questionar também os usos do passado que cercam o “momento medieval” na contemporaneidade.
Por Professor Marcelo Robson Téo,
Lucas Kammer Orsi,
Lucas Santos

Joana d'Arc (1999)

Filme: Joana d’Arc (1999)
Diretor: Luc Besson
País: França e EUA
Idioma original: inglês
Duração: 155 min.
Gênero: drama biográfico





Sobre o diretor:
Luc Besson (1959) é diretor, roteirista, produtor de filmes e responsável também pela fundação da Cité du Cinéma, um complexo cinematográfico localizado em Paris, França. Por lá já passaram figuras como Robert de Niro, Michelle Pfeiffer, Diana Agron e entre outras estrelas do cinema.
O filme Joana d’Arc, de 1999, não é o primeiro de Besson com temática Medieval. Arthur et les Minimoys (2006), trata de uma das inúmeras versões da lenda do rei Arthur, que mesmo já se passando no que é ocidentalmente considerado início da Modernidade (ano de 1520), ainda é classificado como uma lenda Medieval.
Luc Besson é conhecido também pelas direções de filmes como O Profissional (1994) e O Quinto Elemento (1997). O site Pílula Pop, que entrevistou o diretor, descreve-o como alguém que “fez a cama como diretor francês de arrasa-quarteirões entupidamente americanos (...) e hoje se espalha confortavelmente nela, com uma prateleira de filmes medianos e algumas ideias interessantes no currículo. Usa o gabarito conquistado com isso para atuar como um variado produtor (mais de 80 filmes).”. Ainda que influenciado pelos hollywoodianismos no que se refere à sua vasta produção que os entrevistadores acima chamaram de “filmes medianos”,percebe-se estruturas francesas em suas abordagens, principalmente nas suas produções relacionadas à história européia.

Contexto histórico:
A Guerra entre França e Inglaterra já perdurava por quase cem anos, quando o Tratado de Troyes (1420) entregaria a França ao reino da Inglaterra, caso ocorresse a morte do rei. Ambos os reis, no entanto, faleceram depois de algum tempo, quase que simultaneamente. Os reinados ficaram para o herdeiro inglês, Henrique VI, que a
época, tinha apenas alguns meses. Carlos VII, até então Delfim da França, não permite que este tome o poder, sucedendo uma sangrenta batalha com os ingleses, que invadem a França.
O período testemunhou batalhas que se tornaram parte da memória nacional desses países. Alguns destaques dentro dessas batalhas conceberam heróis, que emergiram como símbolos nacionais. No caso, a heroicidade girou em torno da figura de Joana d’Arc.
O filme:
O filme inicia situando os espectadores do contexto histórico. Ao explanar a situação na qual se encontrava a França, o narrador afirma que “Só uma coisa poderia salvá-la... um milagre.” Joana d’Arc (Milla Jovovich) ainda é apenas uma criança quando tem sua religiosidade extremamente exacerbada por dizer conversar com “Ele”, e se dispõe a confessar todos os dias os seus pecados.
Na volta pra casa de uma de suas confissões, a criança corre por um campo e encontra – milagrosamente ou não – uma espada. Continua seu caminho e se depara com a vila onde morava, invadida e destroçada pelos ingleses. O grande trauma de Joana, neste início, foi presenciar de dentro de um confessionário eclesiástico, a morte e o estupro de sua irmã, Catherine, por um cavaleiro inglês. Desde então, a personagem de Milla Jovovich se impõe em uma vingança interminável contra os ingleses, preparando-se a vida inteira espiritualmente para enfrentá-los.
Anos mais tarde, Joana se apresenta ao exército francês como uma “mensageira” de Deus que veio para lutar contra os ingleses e coroar o Delfim Carlos VII como rei. É explicitado nas cenas seguintes o preconceito que Joana sofre por ser mulher: os soldados de seu exército não aceitam que sejam “usurpados por uma garota”, o que a faz, num acesso de raiva, cortar seus cabelos.
Joana é apresentada como pilar da vitória de várias batalhas da Guerra dos Cem anos. O filme aponta que, mesmo após as suas conquistas, a guerreira não desiste. Carlos VII se recusa a entregar-lhe mais um exército, argumentando que estes já se encontravam esgotados. Como deter Joana? Como deter sua euforia pela continuação das batalhas? Queriam-na queimada. A morte de Joana, caso acusada de bruxaria, seria uma solução. Os critérios para a acusação de Joana como herege foi de não “respeitar” as autoridades da Igreja, sempre que se recusava a assumir os seus
pecados; usar roupas masculinas, fato proibido pela Bíblia, e entre outras acusações, que a levam à fogueira no desfecho da trama.
Em todo o desenrolar do filme, Joana é retratada como “louca” e, ao mesmo tempo,um milagre que salvaria a França. Joana convive com suas visões desde cedo, apresentadas pelo filme como uma criança com quem conversava quando ia à Igreja, mais tarde como um adulto que freqüentava seus sonhos e, por fim, diante do julgamento de Joana, o homem das visões aparece como alguém que questiona as ações da protagonista. Quem será aquele homem? Será Jesus Cristo? Será algum anjo? Será apenas uma alucinação, o subconsciente? O filme retrata a personagem, sempre influenciada por essas visões, como uma gradação entre a certeza divina, a ação, o descontrole e, por fim, a dúvida sobre a bondade de seus atos.
Quais seriam os mitos populares que circundam a história de Joana D’Arc? Concordemos que esses mitos também são dinâmicos, uma vez que, condenada no passado, Joana d’Arc é canonizada pelo Vaticano quinhentos anos mais tarde. A loucura que envolve a personagem seria também uma característica que tangencia a história de Joana? A razão exaltada na época era totalmente ligada aos dogmas da Igreja, onde o louco – no caso, Joana – seria uma contradição a essa ideia.
Talvez, a condição insana seja também fruto da imagem do ser feminino, num período onde os homens heroicizados demonstram a sensatez, a bravura, a honra. No próprio filme, alguns dos soldados que fazem parte do exército de Joana, mesmo que retratados com uma personalidade “irritante”, são os que alertam a líder sobre quando os homens estão cansados de lutar, sobre algumas estratégias que podem não dar certo, sobre quando já há sangue demais derramado, sobre quando é hora de parar. Já Joana, sempre movida pelo impulso, acompanhada do desequilíbrio. Essas nuances são produtos de contextos que se interligam por meio de uma produção, no caso, o filme, onde as ideias míticas que circundam a figura de Joana se fundem com a própria ideia do autor cinematográfico.

Por Larissa Canuto de Souza Dantas
Aluna do curso de História FAED – UDESC
Turma 2013/1

The Message (1977)


Filme: The Message (1977)

Diretor: Moustapha Akkad
País: EUA
Idioma original: inglês e arábico
Duração: 177 min.
Gênero: Aventura, biografia e drama.






Sobre o diretor:


               Moustapha Akkad nasceu em Aleppo, Síria no dia 1 de julho de 1930. Aos 19 anos de idade viajou para os Estados Unidos a fim de seguir seu sonho de trabalhar com cinema. Em 1976 teve sua primeira experiência como um diretor no filme The Message. Além da direção, foi também o produtor. Dirigiu também O Leão do Deserto (1981), onde trabalhou novamente com Anthony Quinn, que fez o papel de Hamza o em The Message. Realizou ainda uma versão em árabe, a qual o forçou a filmar duas vezes boa parte do filme com outros atores para poder fazer a transição do inglês. A maioria dos seus trabalhos no cinema foi como produtor, participando como produtor dos oito primeiros filmes da série Halloween, começando esse trabalho em 1978. Como diretor, Moustapha Akkad traz sempre a visão do Mulçumano da História do surgimento de sua própria religião. Isso vale para ambos os filme dirigidos por ele (The Message e O Leão do Deserto).


Em 2005, junto com a filha, morreu após um ataque terrorista na Jordânia. Seu papel como diretor teve o objetivo levar para o Ocidente a historia do Islã, sua religião. Ele tomou para si mesmo esse trabalho de levar a história mulçumana, pouco conhecida no Ocidente:

I did the film because it is a personal thing for me. Besides its production values as a film, it has its story, its intrigue, its drama. Beside all this I think there was something personal, being Muslim myself who lived in the West I felt that it was my obligation, my duty, to tell the truth about Islam. It is a religion that has a 700-million following, yet it's so little known about it, which surprised me. I thought I should tell the story that will bring this bridge, this gap to the West.1
Sobre a produção do Filme:

O filme foi rodado na Líbia e no Marrocos, durando seis meses em cada localização. A história se passa no começo do século VII, na região de Medina e Mecca (atual Arábia Saudita). A escolha de atores de Hollywood foi nada menos que uma ação de propaganda para o filme. Com a utilização de atores conhecidos nos Estados Unidos, torna a aceitação do publico muito maior, já que o tema do filme é muito delicado, principalmente se tratando da politica externa dos Estados Unidos com relação ao Oriente Médio especificamente. Essa fragilidade do assunto pode ser vista no modo que no filme os cristãos são retratados. O único personagem cristão do filme é um rei, que fica localizado não muito distante de Mecca. A visão mostrada pelo filme é de um cristão pacífico, que aceita o outro apesar de sua religião, de reino onde nenhum homem é prejudicado, indiferente de sua religião. O motivo de Akkad mostrar o cristão assim vem do fato do seu público alvo, o cidadão dos Estados Unidos, que é cristão, e se tiver a visão de sua religião degradada no filme, o mesmo não teria como atingir sucesso, e transmitir sua mensagem para o público.

O filme tem uma preocupação importante em mostrar as vestimentas das populações, suas tradições do cotidiano como a do comercio. A musica muçulmana também é bem trabalhado, aparecendo em diversos momentos e de forma mais presente sempre que Maomé está na cena. 

Curiosidade:
Clérigos mulçumanos foram consultados pela produção do filme para a autenticação do material histórico e da “permissão” para fazer o filme. Após seis meses de filmagem o filme foi rejeitado pela Liga Mundial Mulçumana em Mecca. Com isso o governo da Arábia Saudita pressionou o Marrocos para parar com a produção. Após serem expulsos de Marrocos, Akkad foi pedir apoio a Muammar Gaddafi, que, além de financiar este filme de Akkad, deu apoio financeiro de $35 milhões de dólares para outro filme de Akkad, Leão do Deserto (1981).

O filme:
              Maomé por motivos religiosos, não é mostrado ou ouvido no filme. Em todo momento que Maomé tem sua presença mostrada no filme, à câmera se torna seu ponto de vista (como se fosse em primeira pessoa) e uma musica serena é tocada no fundo. Suas falas são repetidas pelos personagens a sua volta, para não haver o uso de sua voz. Comerciante de Mecca que tem o hábito de se isolar em uma caverna nas montanhas da região, tem uma revelação ao longo de um de seus retiros. Tal revelação ocorre aos quarenta anos de idade. Deste momento em diante ele passa a pregar a mensagem Islâmica.
No início apenas alguns se juntam a Maomé. A elite local, liderada por Abu Sofyan tenta eliminar Maomé e sua nova religião. Hamza, tio de Maomé e seu filho adotivo tem na narrativa de Akkad o papel principal. Com a perseguição, todos os seus fieis são obrigados a migrar para um reino cristão próximo, que concede a eles a cidade de Medina. Em Medina, o que eram algumas centenas de seguidores tornou-se milhares. A perseguição religiosa nunca cessou, levando Hamza a persuadir Maomé a entrar em guerra com as elites de Mecca, que saquearam todos os pertences dos seguidores de Maomé, deixados em Mecca.
Uma caravana é montada com os pertences saqueados de Mecca. Maomé formula um plano de guerra, de interceptar a caravana em um posto de parada, um lugar com diversas fontes de agua, que necessária para o abastecimento e descanso. Liderado por Hamza (Maomé que liderou a batalha, mas como o filme não pode mostrar a figura do profeta, Hamza foi colocado na liderança) o exercito Islâmico consegue a vitória.
Após esta vitória anos se passam e vários conflitos entre as elites de Mecca e Mohammad ocorrem, até que ambos os lados, esgotados, chegam a um acordo de trégua de dez anos. Durante esse tempo os seguidores de Maomé crescem, e muito. Em algum momento, alguns soldados de Mecca a cavalo, são mandados sem a permissão de Abu Sofyan (o mais importante líder de Mecca) para trair o acordo, matando alguns soldados de Maomé.
Então com a quebra do acordo o profeta junta seus soldados e marcha para Mecca. Neste momento o exercito islâmico já era maior que o de Mecca. Abu Sofyan sabendo da derrota iminente vai ao acampamento de Maomé para converter-se ao Islã e impedir a destruição de sua cidade, devido ao cerco que a cidade sofreria.
Mecca rende-se pacificamente a Maomé que, não saqueia de forma alguma, apenas ocupa a cidade e volta para sua casa, Mecca. 
A proposta do filme é de ser uma propaganda religiosa. Talvez não seja de modo escancarado, mas mesclado com o extenso trabalho historiográfico feito ao redor do filme. Akkad como mulçumano queria trazer para o mundo ocidental a história da sua religião, muito pouco conhecida. São mostrados constantemente os princípios do Islamismo (exemplo: na religião mulçumana todo fiel é igual, não importa a raça ou posição social). Outro aspecto é o da facilidade da conversão para o Islã, que ao ouvir um simples discurso largam os deuses de sua antiga religião e aderem às profecias de Maomé. A sensação que o filme passa sobre este aspecto é que as populações não tinham uma identificação com religiões locais.

Atividades
               Sugiro que seja feito em sala de aula uma atividade composta com a análise da figura de Maomé histórico e o do filme, discutindo o porquê de não mostrar sua figura, e o porquê da religião islâmica condenar a adoração de ídolos.


Referências:






Por Vitor Valente
Aluno do curso de História FAED/UDESC
Turma de 2013/1

O Feitiço de Áquila (1985)

Filme: O Feitiço de Áquila (1985)
Diretor: Richard Donner
País: EUA
Idioma original: inglês
Duração: 121 min.
Gênero: fantasia





Sobre o diretor:
Richard Donner nasceu em Nova Iorque no ano de 1930. Diretor de cinema, foi um dos únicos a conseguir finalizar quatro filmes seguidos (a série de filmes Lethal Weapon, ou Máquina Mortífera, como é conhecido no Brasil).  Sua carreira alavancou após o lançamento de Superman: The Movie, em 1978.

Filmografia:
       Como diretor:
1976 – The Omen (A Profecia)
1978 – Superman: The Movie (Superman – O Filme)
1980 – Superman II (Superman II – A Aventura Continua
1985 – Ladyhawke (O feitiço de Áquila)
1985 – The Gonnies (Os Gonnies)
1987 – Lethal Weapon (Máquina Mórtifera)
1988 – Scrooged (Os Fantasmas Contra-Atacam)
1989 – Lethal Weapon (Máquina Mortífera 2)
1992 – Lethal Weapon 3 (Máquina Mortífera 3)
1998 – Lethal Weapon 4 (Máquina Mortífera 4)
2006 – Superman II – The Richard Donner Cut

Resenha do filme:

O imaginário acerca da Idade Média, repleto de aventura e magia, ganha uma história de amor proibido. O filme se passa na Europa, mas não é mostrado em nenhum momento a data, e conta a história de Phillipe Gaston, mais conhecido como Rato. Este foge das masmorras de Áquila, considerada uma das prisões mais seguras de toda a Europa. Ao sair de lá, seu caminho cruza com Etienne de Navarre, viajante misterioso que anda sempre junto de seu falcão negro.
Etienne, ao conhecer a história de Rato, não imaginava coincidência maior, já que ele precisava entrar em Áquila e conseguir matar o bispo. A princípio, Rato não entende o porquê disso, mas logo descobre: há alguns anos, o bispo de Áquila possuía uma paixão obsessiva por Isabeau d’Anjou, uma linda jovem. Entretanto, Isabeau era apaixonada por Etienne. Após serem descobertos, o casal foge para longe do bispo e de Áquila. Entretanto, o bispo, no auge de seu ciúme, faz um pacto com o demônio e invoca uma maldição para o casal: durante o dia, Isabeau era obrigada a se transformar em um falcão, enquanto Etienne permanecia como humano. Já durante a noite, Etienne era obrigado a se transformar em um lobo, enquanto Isabeau se tornava humano. Dessa maneira, o casal permaneceria junto, mas nunca conseguiriam viver o sentimento que dividiam. A partir disso, se desenrola uma busca pelo fim da maldição, permeado de muita aventura e romance.
O filme segue o perfil hollywoodiano. Grande parte da narrativa é focada na busca por acabar com a maldição, e assim, o casal protagonista poder viver em paz. Não obstante, alguns elementos se tornam recorrentes na história para torná-la mais dinâmica, como as batalhas ocorridas, sendo que estas são pouco verossímeis, colocando Phillipe e Etienne como heróis.
Numa das cenas iniciais do filme, quando Navarre resgate Phillipe dos homens do bispo, a batalha que ocorre entre ambos coloca Navarre como sendo o guerreiro mais bem treinado, pronto para destruir qualquer um que cruzasse seu caminho. Um recurso utilizado para dar um toque a mais à cena é a trilha sonora, dando um ar de heroísmo. Outro fator é o humor desenvolvido no personagem Phillipe, já que as cenas mais divertidas ficam por conta deste.
A questão histórica do filme acaba ficando em segundo plano, mas podemos perceber uma tendência a colocar a Igreja como uma grande estrutura, sendo que diversos grupos sociais, como o exército, estão submissos a ela. Para determinar tal poderio, temos como exemplo o próprio bispo de Áquila e a masmorra. Podemos citar um diálogo entre o bispo e um dos seus guardas, que para autenticar o perigo que Etienne causava para a sociedade, disse que havia recebido uma visita divina durante a noite, e que nesta havia recebido a notícia de que o mensageiro de Satã estava entre eles, e que atendia pelo nome de Etienne de Navarre. Logo, precisava ser expurgado da sociedade.
Em boa parte do filme percebemos no personagem de Phillipe predisposição para “conversar com Deus”, ou seja, tudo era motivo para estar em contato com o divino. Pedir perdão e desculpas, solicitar alguma coisa, ou até mesmo rogar algum conselho. E isso não está tão distante da sociedade medieval. Essa conexão com Deus e o divino permeou grande parte do pensamento da época, e é um dos pontos que pode ser discutido em sala de aula.
Ao passar o filme em sala de aula, um ponto de partida é mostrar de que maneira o período medieval está presente em nossa sociedade, através de jogos eletrônicos, filmes e livros, tornando-se quase uma febre. No entanto, essas representações muitas vezes não condizem com os valores da época, o que acaba gerando uma série de estereótipos, retratando esse período como sendo repleto de magia e aventuras. No caso desse, um dos pontos principais é a própria maldição, que transformava os protagonistas. Outro ponto a ser questionado é a própria figura do bispo de Áquila. A Igreja na época tinha grande poderio e influência, mas da maneira com que ela é retratada no filme, acaba se tornando uma espécie de vilã para a sociedade. O bispo, no filme, é moldado como um vilão ambicioso, que não mede esforços para atingir seus objetivos. Além de tudo, o professor pode passar para o aluno, de maneira breve, a trajetória do diretor no cinema, procurando destacar sua experiência com filmes de temática histórica. Apesar de o cinema ter o objetivo de entreter, o aluno deve captar as mensagens que o filme traz, pensando se realmente a proposta do diretor é nos fornecer um retrato histórico ou apenas uma história de amor proibido com um cenário medieval. Como foi percebido, o diretor acaba optando mais pela segunda opção, apesar da presença de alguns elementos medievais.

Por Lucas Kammer Orsi
Aluno do curso de História FAED – UDESC
Turma 2013/1

Sugestão de atividade
Apesar do intuito de entreter o público com uma história de amor cercada de obstáculos, o filme O feitiço de Áquila permite mostrar alguns pontos do pensamento da época. O mais notável, que é representado pelo personagem Philipe Gaston, ou Rato, é o imaginário da sociedade medieval permeado de sentimentos religiosos. O professor, após a exibição do filme, pode iniciar um debate levantando essas questões na sala de aula, referenciando que a população tinha o sagrado como um referencial, um guia. Para auxiliar nesse debate, o professor pode fazer conexões com documentos históricos, principalmente o excerto escolhido de um Sermão, escrito por São Cesário de Arles (470-543).
Sermão 13 (para uma paróquia rural), de São Cesário de Arles ( 470-543):
“III. (...) Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível, pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?
Disponível em: http://www.ricardocosta.com/extratos-de-documentos-medievais-sobre-o-campesinato-secs-v-xv#sthash.j0dItIwd.dpuf

O excerto acima evidencia principalmente a posição da Igreja perante a sociedade, sendo considerada aquela que resolvia qualquer tipo de problema, nesse caso a doença. E ainda afirma, que quem a procura, terá o perdão dos pecados, algo de suma importância para o homem medieval. Logo, não haveria a necessidade de recorrer a práticas não cristãs, consideradas demoníacas no período. Dessa maneira, o professor aproxima o estudante de questões que permearam a Idade Média, contextualizando com um documento escrito no período. Como amparo, o professor pode ler o capítulo intitulado As estruturas mentais (pgs. 138-154), contido no livro A Idade Média: O Nascimento do Ocidente, do Hilário Franco Júnior. Nesse capítulo, o historiador discute com uma linguagem didática os fundamentos do pensamento medieval, tomando como base alguns elementos. Dentre eles a visão hierofânica do mundo, ou seja, a influência da religião e dos dogmas de Deus nas práticas cotidianas, a comunicação com o mundo divino, o simbolismo, o belicismo e o contratualismo, ou seja, a luta entre o bem e o mal.


O Incrível Exército de Brancaleone (1966)

Filme: O Incrível Exército de Brancaleone
Diretor: Mario Monicelli
País: Itália/ França/ Espanha
Duração: 116 minutos
Gênero: comédia







Sobre o diretor: Mario Monicelli (1915-2010) nasceu e morreu em Roma. Foi diretor de mais de 60 filmes, além de ser roteirista e também atuar. Era formado em História e Filosofia, e por ser filho de um jornalista e crítico teatral, muitos de seus filmes tinham um propósito argumentista, ou seja, de argumentar e debater com os assuntos que aborda em seus filmes. Conhecido como detentor de um particular espírito de crítica através da comédia, ou satirização, imprimiu sua poética cinematográfica através da mesma, com uma narrativa leve e simples, mas funcional. Atuou também como crítico cinematográfico de mais de 40 filmes. Nos filmes que dirigiu, trabalhou com diversos assuntos, históricos ou não. Seus filmes, além de fazer rir, nos fazem pensar e refletir. Em 29 de novembro de 2010, sendo tratado de câncer de próstata, se suicidou, jogando-se do 4º andar do hospital.

Filmografia:
Foi diretor de muitos filmes, mas relacionado ao filme “O Incrível Exército de Brancaleone”, houve a produção de uma segunda película em sua continuidade: “Brancaleone nas Cruzadas”, produzido em 1970. Outro filme feito por ele que também aborda sobre a Idade Média foi “Bertoldo, Bertoldino e Cacasenno”, de 1984.

Contexto histórico do filme:
O filme é contado a partir do ano 1000 d.C, a chamada Baixa Idade Média e é baseado em uma história verídica. Apesar de fugir de certos pontos na história, trata-a com um olhar engraçado, brincando com certos fatos e satirizando a situação da Europa no século XI. Nessa época estavam ocorrendo várias guerras, as ameaças dos Turcoromanos, pestes negras, fome e também fanatismo religioso.

Resumo do filme:
O filme começa quando um importante cavaleiro francês está para tomar posse de suas terras, mas é morto por determinado grupo. Esse grupo toma para si a escritura do terreno e precisam de alguém que fosse seu cavaleiro. Eles acabam achando Brancaleone, que apesar de cavaleiro, não era muito rico e só tinha um cavalo, a quem chamava de Aquilante. Brancaleone de Nórcia era muito atrapalhado e também mulherengo. Quando lhe apresentam a escritura, eles partem para Aurocastro, em busca dessa fortuna e também de poder. Porém, esse seu “exército” era de plebeus, um grupo pequeno, esfarrapado e sem armadura ou treinamento adequado para uma cavalaria. Durante todo seu trajeto até a cidade, eles passam por vários episódios. Há muita fome e como o exército não é oficial, não tem muitos recursos. Além disso, a peste negra que devastava a população naquela época traz muitos problemas, como a própria doença e morte, não somente para ele e seus homens, mas á população em geral.
Há muitas partes interessantes no filme, e numa delas Brancaleone entra em um torneio da cavalaria, onde quem ganhasse casava-se com a filha de um nobre, tornando-se nobre também. O cavaleiro tenta de tudo para conseguir esse prêmio. Porém, não possuía bons equipamentos e perdeu, tendo que assim, ter vários embates para conseguir dominar o feudo e ainda por cima, dividir as riquezas. Em uma das melhores partes, acontece o encontro com o monge Zenone, que acaba recrutando Brancaleone e seu exército para lutar na guerra santa. A guerra santa, também conhecida como Cruzadas, eram movimentos militares Jerusalém e onde Jesus teria andado, para tirá-las dos muçulmanos e manter as terras sobre o controle cristão. As Cruzadas eram também eram também uma peregrinação, uma forma de pagamento a alguma promessa, ou uma forma de pedir alguma graça, pagar penitencia e garatir sua salvação.
Outro episódio se dá quando eles encontram Matelda e seu tutor. Quando morre, ele faz com que Brancaleone prometa que vai levá-la de volta a seu noivo. Matelda, porém, quer fugir com Brancaleone, que mesmo sendo mulherengo, diz que é dever dos cavalheiros protegerem as donzelas e mantê-las puras.
Em várias partes, há a figura do bizantino, muito presente nessa época e também personagem muito polêmico no filme, porque em vários pontos vai de encontro com a filosofia da Igreja Católica. E como não podia ficar de fora, a atividade comercial também é problematizada, através de Habacuc, um judeu que sabia ler e viajava com um baú cheio de mercadorias e muito bom negociador, que tenta tirar vantagem e ganhar um lucro com a posse da escritura.
Mesmo com todos os empecilhos do caminho, ao chegarem a Aurocastro, são bem recebidos como novos donos da terra. Isso porque o senhor feudal tinha a obrigação de defender o feudo, principalmente dos sarracenos. Mas acabam sendo capturados e só são libertos por um grupo que luta em nome de Deus e após seguem rumo a Terra Santa. Agora, não mais atrás de poder e riqueza, mas glória e salvação (ou seja, para lutarem juntos nas Cruzadas).

Análise:
Antes de tudo, trata-se de uma paródia a Dom Quixote. O filme é super descontraído, começando pela narração, que é irônica. Aborda temas tão importantes que estudamos na escola e até mesmo na faculdade, mesclando humor e reflexão. Brinca com os ritos, crenças e costumes, além da religião e o fanatismo que estava ocorrendo durante aquele período. Em todos os momentos, porém, pode-se perceber a crise do feudalismo e as relações sociais nesse mundo feudal, em cenas que mostra-se a fome e também pobreza, além da hierarquia demonstrada. Mostra também que não só o dinheiro, mas era a classe social que contava como importante para a estrutura social da época.
Expressa o poder que a Igreja Católica tinha na sociedade e também o fanatismo religioso que nasceu dessa relação que a Igreja criou. Mostra algumas figuras como os sarracenos e os bizantinos, tratando o segundo, como quem sempre quer levar a vantagem em cima dos outros, o traidor, demonstrando assim o ressentimento italiano em relação a estes, criado a partir da cisão com Roma. Os três pontos “guerras, peste e fome”, apesar de serem temas fortemente presentes, ficam mais leves com a sátira de Mario. Mas, uma das principais argumentações quanto ao que acontece no filme, é sobre os códigos e jeitos de agir dos cavaleiros, seus costumes e obrigações como sendo parte essencial dessa classe social. É um ótimo filme, com grande pesquisa histórica e que mostra que o cinema pode ser tratado com certo tom de comédia e mesmo assim, abordar por em debate assuntos historicamente relevantes.

Por Bruna Maiara Gums
Aluna do curso de História FAED-UDESC
Turma 2013/1

Cena inicial, quando descobrem que roubaram a escritura de um cavalheiro muito rico.



Cena em que Brancaleone vai em defesa de Matelda





Coração de Cavaleiro (2001)

FICHA TÉCNICA
Filme: Coração de Cavaleiro (2001).
Diretor: Brian Helgeland.
País: EUA.
Idioma original: Inglês.
Duração: 132 min.
Gênero: Aventura.




Sobre o diretor:

Brian Helgeland (1961) é roteirista, produtor de cinema e diretor. Mais conhecido por escrever LA Confidential, pelo qual recebeu um Oscar, Mystic River e A Nightmate on Elm Street 4: The Dream Master. Além de receber o Oscar no mesmo fim de semana, em 1998, recebeu um “prêmio” Razzie, como pior roteiro pelo filme The Postman. Foi a quarta pessoa da história a aceitar a estatueta Razzie voluntariamente, declarou que iria exibir os dois prêmios lado a lado para lembrá-lo da natureza exótica de Hollywood. Os únicos filmes relacionados com a Idade Média é Coração de Cavaleiro e Hobin Hood.

Sobre os cavaleiros medievais:
Para ser um cavaleiro medieval era preciso ser um integrante da nobreza, além de precisar de treinamento e armas. Muitas vezes recebiam terras e direitos de cobrança para defenderem a propriedade de um senhor feudal. Aos sete anos de idade, o jovem aprendia sobre equitação e como utilizar as armas, aos doze ele era transformado em um escudeiro e acompanhava o seu senhor nos campos de batalha, aprimorando sua condição física nas lutas, corridas e desafios de esgrima. Entre os 18 e 20 anos se transformava em cavaleiro. Nas situações de guerra, um cavaleiro não poderia sobreviver muito tempo sem que estivesse acompanhado de seu cavalo, Sem ele, a morte em batalha era quase certa.
A Igreja Católica exerceu grande influência no processo de composição das cavalarias. Para os clérigos, as ações dos cavaleiros deveriam defender a moralidade da religião cristã. Uma das influências da Igreja se dava na cerimônia religiosa que tornava o nobre um cavaleiro. Nessa cerimônia o indivíduo jurava seguir os princípios da fé e da moralidade cristã.

O filme:
A história se passa no século XIV. William Tatcher é um camponês e quando criança seu pai o entrega para os cuidados de um cavaleiro para que um dia ele chegasse a ser um. Porém, nem todos podiam ter esse título, já que para ser um, era preciso ser nobre, algo que William não era. Porém, quando seu patrão Sir Ector morre antes de participar de um torneio para cavaleiros, William resolve substituir o falecido e finge ser o nobre Ulrich Von Lichtenstein, isto tudo com a ajuda de seus dois amigos. William acaba vencendo o torneio e não desiste dessa “brincadeira”.
O jovem sai em busca de outras batalhas, porém a situação complica, pois ele não é nobre e não tem as patentes de nobreza. Essas patentes seriam as que caracterizam o nobre em duque, marquês, conde, visconde e barão. Por sorte, encontra no meio do caminho um escritor desempregado chamado Chauncer, que em troca de comida e roupa monta uma patente de nobreza para o falso cavaleiro. Numa destas batalhas se apaixona pela jovem Jocelyn, que diferente dele era da nobreza. Porém, esse amor é disputado por Conde Adhemar, motivo pelo qual William sempre quer lutar com o Conde.
Em um momento do filme, o príncipe Edward esta participando de uma batalha, mas disfarçadamente, pois se alguém soubesse quem ele era, não iria lutar. E foi isso que aconteceu: os cavaleiros descobriam a verdade e se recusavam a lutar. Mas, William não desistiu e batalhou com o príncipe, adquirindo respeito deste.
Apesar de ser uma aventura, o diretor dá atenção ao amor do personagem principal. Jocelyn, então, pede para que William perca a competição como prova de amor. No começo ele resiste, mas na hora de competir acaba fazendo o que a amada quer.
Ao final do filme, William vai atrás de seu pai que está cego e conta para ele que está vivo. Porém, é seguido e todos acabam sabendo de sua verdadeira identidade antes da sua batalha mais importante com o Conde Adhemar. Ele é condenado à morte, mas é salvo pelo príncipe Edward como recompensa por ter lutado com ele na outra batalha. É nomeado Sir William pelo mesmo, permitindo que continuasse na competição. Sir William vence o Conde e fica com a Jocelyn.
Apesar de retratar em detalhe o universo dos cavaleiros, encontram-se algumas incongruências no filme. Talvez por ser um filme de aventura com tendências para a comédia. Por exemplo, no começo do filme os torcedores da arena cantam a música We Will Rock You, do Queen. Além das músicas com ares modernos, as roupas e penteados dos personagens também foram adaptados, principalmente de Jocelyn que aparece com o cabelo bem contemporâneo. Mas, são técnicas que atraem e prendem o telespectador ao filme.
O filme é bom para trabalhar na sala de aula, pois aborda um dos principais temas relacionados à Idade Média que é a nobreza. Uma proposta para se trabalhar em sala de aula é pedir para que os alunos identifiquem símbolos que caracterizam a nobreza na Idade Média. A partir disso, comparar com a sociedade brasileira, analisando quais seriam os símbolos que atualmente caracterizam a classe mais alta do nosso país.



Por Thayná Schlichting de Souza
Aluna do curso de História FAED-UDESC
Turma de História Medieval 2013/2


Robin Hood: Prince of Thieves (1991)

Ficha técnica
Filme: Robin Hood: Prince of Thieves (1991)
Diretor: Kevin Reynolds
Roteiro: Pen Densham e John Watson
País: EUA
Idioma original: inglês
Duração: 145 min.
Gênero: aventura


Sobre o diretor
Kevin Hall Reynolds (1952) é um diretor e roteirista estadunidense conhecido por criar longas-metragens inspirados em obras literárias épicas, como é o caso de O Conde de Monte Cristo, Waterworld e Robin Hood, este último, causou grande sucesso no início dos anos 1990. Nascido no Texas é formado em direito pela Universidade Baylor e em cinema pela USC School of Cinema-Television.

Sobre a lenda medieval que inspirou o filme
              Diversos historiadores procuraram vestígios que comprovasse o verdadeiro indivíduo Robin Hood, porém, esses estudos mostram que esse nome era mais um arquétipo, ou seja, um modelo que era usado para descrever comportamento criminal de pessoas que roubavam.
              Já na literatura, Robin Hood, possuí centenas de aparições. Seus vestígios aparecem em 1377, no poema Piers Plowman, de William Langland, e em 1450 em Robin Hood and the Monk ("Robin Hood e o monge”).

“O primeiro registro impresso preservado data de 1475: a coleção de histórias The Adventures of Robyn Hode (‘As aventuras de Robyn Hode’), que delineia seu comportamento heroico. Nas contas das crônicas medievais, da tradição oral e escrita, o bando do arqueiro tinha um efetivo de 20 a 140 homens, com destaque para João Pequeno [...] e o frei Tuck [...]” [1].

              Em suas aparições do século XVI, Robin aparece como sendo um nobre defensor do rei Ricardo Coração de Leão (que reinou entre 1189 e 1199), quando seu irmão João quer usurpar o trono inglês, durante sua ausência devido a Terceira Cruzada (1190). Hood torna-se um fora da lei por lutar contra os altos impostos cobrados, visto na imagem do xerife de Nottingham. No século XVII o herói ganha novos motivos para lutar, principalmente contra o poder da Igreja Católica, devido ao contexto histórico da pós-Reforma.
              Apenas no século XVIII a personagem de Lady Marion entra na narrativa como sendo a amante do arqueiro. Seu contorno patriótico é posto no século XIX, um homem forte e que luta pelos direitos do seu povo. Como é atualmente lembrado, sendo esse grande herói que “rouba dos ricos para dar aos pobres” e que aparece frequentemente tanto na literatura quanto nos filmes e séries.

Proposta didática
Pode-se fazer uma análise crítica dos meios literários e dos midiáticos que retratam o personagem Robin Hood. Cada época representou de formas diferentes esse indivíduo, incorporou novas características, novos personagens e novos inimigos. É interessante pensarmos o porquê dessas alterações, qual o contexto da produção dessas obras e qual arquétipo desejam passar para o público.
Sendo assim, o docente pode selecionar várias versões da história de Robin Hood, desde filmes e séries até livros de literatura, desenhos e quadrinhos, e apresenta-los aos estudantes e iniciar um exercício de análise entre as formas de retratar o personagem. Quais são suas principais caraterísticas? Em qual época está sendo retratado? Quais são os demais personagens que estão sendo retratados? Ele é algum tipo de “herói”? Luta contra alguém ou algum sistema? Estas são algumas, entre outras perguntas que podem ser desenvolvidas, sempre indagando o porquê daquele determinado autor construir o protagonista daquele modo.
Com essa atividade pode-se incentivar os discentes a continuarem com esse exercício de contestação frente aos demais meios midiáticos. Fazendo perguntas a obra e buscando descobrir qual o contexto da produção, assim como a finalidade do filme e para qual público é dirigido.
  
Resumo do filme
              O contexto que se passa o filme é a última década do século XII, quando o rei Ricardo I parte para a Terceira Cruzada em direção a Jerusalém, onde inicia o filme com Robin de Locksley (Kevin Costner) preso junto com outros guerreiros e mouros. Graças sua habilidade consegue escapar levando consigo Azeem (Morgan Freeman), um mouro que jurou pagar uma dívida por salvar sua vida, e juntos conseguem chegar a Nottingham. Lá descobrem que Lord Locksley, pai de Robin, foi assassinado pelo grupo liderado pelo xerife (Alan Rickman), o qual tinha um plano para usurpar o trono da Inglaterra. Tendo um desentendimento com o primo do xerife, Guy de Gisborne, por salvar o pequeno Wulf (Daniel Newman), é considerado um fora da lei, e vai em direção da floresta de Sherwood em busca de abrigo. Se encontrando com o grupo liderado por John Little, prova sua coragem e faz amizade com esses “homens da floresta”.
              Após isso, o filme apresenta a crescente popularidade do personagem, como qual nos é posta atualmente, como aquele homem que “rouba dos ricos para dar aos pobres”, lutando contra os altos impostos e a exploração dos colonos. Enraivecido o xerife de Nottingham, coloca sua cabeça a prêmio e tenta assassinar Robin várias vezes, principalmente quando este descobre seu plano de destronar o rei Ricardo, Coração de Leão (Sean Connery). Até que finalmente consegue articular um ataque com sucesso ao esconderijo de Hood, capturando alguns homens e o menino Wulf, e sequestrando Lady Marion (Mary Elizabeth Mastrantonio) para forçá-la a se casar com ele e gerar um filho legítimo, já que Marion era prima do rei.
              O ápice do filme é a batalha para salvar esses amigos capturados e a amada de Robin Hood. Montando todo um esquema para entrar no castelo e havendo muitas batalhas e discursos inspiradores, Robin juntamente com seu fiel amigo Azeem conseguem salvar Marion e matar o xerife. A história termina em festa com o casamento de Robin Hood e Lady Marion na floresta de Sherwood.
Análise
            Apesar da trama já esperada, Kevin Reynolds incorpora alguns personagens que não condizem com a lenda[2], como o meio irmão de Robin, Will e a uma bruxa, que seria a mãe do xerife, ambos os personagens são revelados no final do filme de modo inesperado, dando um pouco mais de emoção a narrativa. Além disso, o diretor é coerente em relação ao cenário, a floresta de Sherwood, as construções, o espaço físico em geral, e se preocupa também com o figurino ambientado da época medieval.
            Uma análise muito interessante que podemos fazer é sobre a presença da Igreja Católica, já no início do filme onde o pai de Robin contesta o porquê de realizar as cruzadas, impor a força uma religião a outros grupos. Outro fato é a autenticação de um filho legítimo apenas com o casamente efetivo, mostrado até de forma meio cômica no final da histórica, quando o xerife quer se casar com Lady Marion e após isso estuprá-la para conceber um filho herdeiro.
            Outro ponto que merece destaque é a tentativa por parte de Reynolds em quebrar com estereótipos acerca do Islã. Em muitas cenas o diretor procura mostrar Azeem, o mouro, como sendo detentor de tecnologias, como a luneta, onde ironicamente o estrangeiro pergunta “como seu povo ignorante tomou Jerusalém?”, ao perceber que o protagonista ficou assustado com o objeto; juntamente com o domínio do parto por cesariana. Traz também na narrativa um pouco da religião islâmica, como os momentos de orações e da recusa à bebida alcoólica, entre outras características que desmistificam essa cultura, fazendo comparações com a Igreja Católica. Sendo assim, um dos principais pontos do diretor é quebrar com essa ideia de “selvagem”, modo como são apresentados os mouros durante as Cruzadas.
              Agora retornando a coerência com a lenda, o personagem Robin Hood é visto como o autêntico herói: homem, forte, atencioso, humilde, que junto com seu carisma e sua paixão procura salvar todos, e com coragem enfrenta todos os desafios. Esse estereótipo de “homem do bem” é muito presente tanto nas lendas a partir do final do século XVIII, como nos filmes, nos desenhos e nas obras literárias. Na parte dos “maus”, se encontram o arqui-inimigo de Robin, o Xerife de Nottingham, porém no filme de 1991, a verdadeira mente do mal é a chamada bruxa, a mãe do xerife, que é quem bola todo o trama para usurpar o trono da Inglaterra, deixando seu filho mais como um “peão” do plano. Essa separação entre o bem e o mal é muito evidente na narrativa, corrente nos filmes hollywoodianos.
              De forma geral, o filme apresenta muitas características que coincidem com a época do final do século XII e início do XIII, como a Terceira Cruzada comandada por Ricardo I, momento em que se passa a narrativa e também nos demais aspectos físicos, como os já contemplados anteriormente. Porém não devemos deixar de criticar a mentalidade dos personagens, referente aos ideais de heróis de séculos posteriores. Como apresentado por Roberto Sinqueira,

“Kevin Reynolds até apresenta cenas interessantes, [...] mas infelizmente o longa não passa de uma diversão sem compromisso. Talvez Reynolds tivesse a melhor das intenções ao juntar um ótimo elenco para contar a lendária história de Robin Hood. Mas, nas palavras de Azeem, ‘não existem homens perfeitos, somente intenções perfeitas’” [3].

              O filme conseguiu fazer muito sucesso ao ser lançado e conquistou o Grammy Awards na categoria “Best Song Written Specifically for a Motion Picture or Television” em 1992, com a trilha sonora de Bryan Adams, “(Everything I Do) I Do It for You", além de fazer referências coerentes com a época medieval, apresentando os problemas como a fome e a pobreza e o imaginário sobre os mouros. Contanto, não se preocupa em se basear em fatos históricos concretos.
              As diferentes percepções sobre a figura de Robin Hood ajudam a compreender como cada época pensou as relações entre a lei e a exclusão social. Além disso, a adição e mudança de certos personagens revelam o contexto de cada período e o local em que foram produzidos, assim como os problemas, as necessidades e os desejos desses indivíduos. Desse modo, deve-se analisar não o personagem em si, mas o que ele representa para aquela determinada sociedade.

Por Talita Garcia Ferreira
Aluna do curso de História FAED – UDESC
Turma de História Medieval 2013/2




[1] (DUARTE, Fernando, Em busca de Robin Hood, in Aventuras na História, 2010).  Disponível em http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/busca-robin-hood-565163.shtml.
[2] Existem diversas lendas sobre o personagem de Robin Hood, a maioria delas segue uma narrativa central que consistem em um homem que rouba dos ricos para dar aos pobres, sendo acompanhado por dois fiéis amigos.
[3] (SINQUEIRA, Roberto, Robin Hood: Prince of Thieves, in Cinema e Debate, 2010). Disponível em http://cinemaedebate.com/2010/12/23/robin-hood-%E2%80%93-o-principe-dos-ladroes-1991/