Filme: Joana d’Arc (1999)
Diretor: Luc Besson
País: França e EUA
Idioma original: inglês
Duração: 155 min.
Gênero: drama biográfico
Sobre o diretor:
Luc Besson (1959) é diretor, roteirista, produtor de filmes e responsável também pela fundação da Cité du Cinéma, um complexo cinematográfico localizado em Paris, França. Por lá já passaram figuras como Robert de Niro, Michelle Pfeiffer, Diana Agron e entre outras estrelas do cinema.
O filme Joana d’Arc, de 1999, não é o primeiro de Besson com temática Medieval. Arthur et les Minimoys (2006), trata de uma das inúmeras versões da lenda do rei Arthur, que mesmo já se passando no que é ocidentalmente considerado início da Modernidade (ano de 1520), ainda é classificado como uma lenda Medieval.
Luc Besson é conhecido também pelas direções de filmes como O Profissional (1994) e O Quinto Elemento (1997). O site Pílula Pop, que entrevistou o diretor, descreve-o como alguém que “fez a cama como diretor francês de arrasa-quarteirões entupidamente americanos (...) e hoje se espalha confortavelmente nela, com uma prateleira de filmes medianos e algumas ideias interessantes no currículo. Usa o gabarito conquistado com isso para atuar como um variado produtor (mais de 80 filmes).”. Ainda que influenciado pelos hollywoodianismos no que se refere à sua vasta produção que os entrevistadores acima chamaram de “filmes medianos”,percebe-se estruturas francesas em suas abordagens, principalmente nas suas produções relacionadas à história européia.
Contexto histórico:
A Guerra entre França e Inglaterra já perdurava por quase cem anos, quando o Tratado de Troyes (1420) entregaria a França ao reino da Inglaterra, caso ocorresse a morte do rei. Ambos os reis, no entanto, faleceram depois de algum tempo, quase que simultaneamente. Os reinados ficaram para o herdeiro inglês, Henrique VI, que a
época, tinha apenas alguns meses. Carlos VII, até então Delfim da França, não permite que este tome o poder, sucedendo uma sangrenta batalha com os ingleses, que invadem a França.
O período testemunhou batalhas que se tornaram parte da memória nacional desses países. Alguns destaques dentro dessas batalhas conceberam heróis, que emergiram como símbolos nacionais. No caso, a heroicidade girou em torno da figura de Joana d’Arc.
O filme:
O filme inicia situando os espectadores do contexto histórico. Ao explanar a situação na qual se encontrava a França, o narrador afirma que “Só uma coisa poderia salvá-la... um milagre.” Joana d’Arc (Milla Jovovich) ainda é apenas uma criança quando tem sua religiosidade extremamente exacerbada por dizer conversar com “Ele”, e se dispõe a confessar todos os dias os seus pecados.
Na volta pra casa de uma de suas confissões, a criança corre por um campo e encontra – milagrosamente ou não – uma espada. Continua seu caminho e se depara com a vila onde morava, invadida e destroçada pelos ingleses. O grande trauma de Joana, neste início, foi presenciar de dentro de um confessionário eclesiástico, a morte e o estupro de sua irmã, Catherine, por um cavaleiro inglês. Desde então, a personagem de Milla Jovovich se impõe em uma vingança interminável contra os ingleses, preparando-se a vida inteira espiritualmente para enfrentá-los.
Anos mais tarde, Joana se apresenta ao exército francês como uma “mensageira” de Deus que veio para lutar contra os ingleses e coroar o Delfim Carlos VII como rei. É explicitado nas cenas seguintes o preconceito que Joana sofre por ser mulher: os soldados de seu exército não aceitam que sejam “usurpados por uma garota”, o que a faz, num acesso de raiva, cortar seus cabelos.
Joana é apresentada como pilar da vitória de várias batalhas da Guerra dos Cem anos. O filme aponta que, mesmo após as suas conquistas, a guerreira não desiste. Carlos VII se recusa a entregar-lhe mais um exército, argumentando que estes já se encontravam esgotados. Como deter Joana? Como deter sua euforia pela continuação das batalhas? Queriam-na queimada. A morte de Joana, caso acusada de bruxaria, seria uma solução. Os critérios para a acusação de Joana como herege foi de não “respeitar” as autoridades da Igreja, sempre que se recusava a assumir os seus
pecados; usar roupas masculinas, fato proibido pela Bíblia, e entre outras acusações, que a levam à fogueira no desfecho da trama.
Em todo o desenrolar do filme, Joana é retratada como “louca” e, ao mesmo tempo,um milagre que salvaria a França. Joana convive com suas visões desde cedo, apresentadas pelo filme como uma criança com quem conversava quando ia à Igreja, mais tarde como um adulto que freqüentava seus sonhos e, por fim, diante do julgamento de Joana, o homem das visões aparece como alguém que questiona as ações da protagonista. Quem será aquele homem? Será Jesus Cristo? Será algum anjo? Será apenas uma alucinação, o subconsciente? O filme retrata a personagem, sempre influenciada por essas visões, como uma gradação entre a certeza divina, a ação, o descontrole e, por fim, a dúvida sobre a bondade de seus atos.
Quais seriam os mitos populares que circundam a história de Joana D’Arc? Concordemos que esses mitos também são dinâmicos, uma vez que, condenada no passado, Joana d’Arc é canonizada pelo Vaticano quinhentos anos mais tarde. A loucura que envolve a personagem seria também uma característica que tangencia a história de Joana? A razão exaltada na época era totalmente ligada aos dogmas da Igreja, onde o louco – no caso, Joana – seria uma contradição a essa ideia.
Talvez, a condição insana seja também fruto da imagem do ser feminino, num período onde os homens heroicizados demonstram a sensatez, a bravura, a honra. No próprio filme, alguns dos soldados que fazem parte do exército de Joana, mesmo que retratados com uma personalidade “irritante”, são os que alertam a líder sobre quando os homens estão cansados de lutar, sobre algumas estratégias que podem não dar certo, sobre quando já há sangue demais derramado, sobre quando é hora de parar. Já Joana, sempre movida pelo impulso, acompanhada do desequilíbrio. Essas nuances são produtos de contextos que se interligam por meio de uma produção, no caso, o filme, onde as ideias míticas que circundam a figura de Joana se fundem com a própria ideia do autor cinematográfico.
Por Larissa Canuto de Souza Dantas
Aluna do curso de História FAED – UDESC
Turma 2013/1