Ficha técnica
Filme:
Robin Hood: Prince of Thieves (1991)
Diretor:
Kevin Reynolds
Roteiro:
Pen Densham e John Watson
País:
EUA
Idioma
original: inglês
Duração:
145 min.
Gênero:
aventura
Sobre o diretor
Kevin
Hall Reynolds (1952) é um diretor e roteirista estadunidense conhecido por criar
longas-metragens inspirados em obras literárias épicas, como é o caso de O Conde de Monte Cristo, Waterworld e Robin Hood, este último, causou
grande sucesso no início dos anos 1990. Nascido no Texas é formado em direito
pela Universidade Baylor e em cinema
pela USC School of Cinema-Television.
Sobre a lenda medieval que inspirou
o filme
Diversos historiadores procuraram
vestígios que comprovasse o verdadeiro indivíduo Robin Hood, porém, esses
estudos mostram que esse nome era mais um arquétipo, ou seja, um modelo que era
usado para descrever comportamento criminal de pessoas que roubavam.
Já na literatura, Robin Hood,
possuí centenas de aparições. Seus vestígios aparecem em 1377, no poema Piers
Plowman, de William Langland, e em 1450 em Robin
Hood and the Monk ("Robin Hood e o monge”).
“O
primeiro registro impresso preservado data de 1475: a coleção de histórias The Adventures of Robyn Hode (‘As
aventuras de Robyn Hode’), que delineia seu comportamento heroico. Nas contas
das crônicas medievais, da tradição oral e escrita, o bando do arqueiro tinha
um efetivo de 20 a 140 homens, com destaque para João Pequeno [...] e o frei
Tuck [...]” [1].
Em suas aparições do século XVI,
Robin aparece como sendo um nobre defensor do rei Ricardo Coração de Leão (que reinou
entre 1189 e 1199), quando seu irmão João quer usurpar o trono inglês, durante
sua ausência devido a Terceira Cruzada (1190). Hood torna-se um fora da lei por
lutar contra os altos impostos cobrados, visto na imagem do xerife de
Nottingham. No século XVII o herói ganha novos motivos para lutar,
principalmente contra o poder da Igreja Católica, devido ao contexto histórico
da pós-Reforma.
Apenas
no século XVIII a personagem de Lady Marion entra na narrativa como sendo a
amante do arqueiro. Seu contorno patriótico é posto no século XIX, um homem
forte e que luta pelos direitos do seu povo. Como é atualmente lembrado, sendo
esse grande herói que “rouba dos ricos para dar aos pobres” e que aparece
frequentemente tanto na literatura quanto nos filmes e séries.
Proposta didática
Pode-se
fazer uma análise crítica dos meios literários e dos midiáticos que retratam o
personagem Robin Hood. Cada época representou de formas diferentes esse
indivíduo, incorporou novas características, novos personagens e novos
inimigos. É interessante pensarmos o porquê dessas alterações, qual o contexto
da produção dessas obras e qual arquétipo desejam passar para o público.
Sendo
assim, o docente pode selecionar várias versões da história de Robin Hood,
desde filmes e séries até livros de literatura, desenhos e quadrinhos, e
apresenta-los aos estudantes e iniciar um exercício de análise entre as formas
de retratar o personagem. Quais são suas principais caraterísticas? Em qual
época está sendo retratado? Quais são os demais personagens que estão sendo
retratados? Ele é algum tipo de “herói”? Luta contra alguém ou algum sistema?
Estas são algumas, entre outras perguntas que podem ser desenvolvidas, sempre
indagando o porquê daquele determinado autor construir o protagonista daquele
modo.
Com
essa atividade pode-se incentivar os discentes a continuarem com esse exercício
de contestação frente aos demais meios midiáticos. Fazendo perguntas a obra e
buscando descobrir qual o contexto da produção, assim como a finalidade do
filme e para qual público é dirigido.
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Resumo do filme
O contexto que se passa o filme é a
última década do século XII, quando o rei Ricardo I parte para a Terceira
Cruzada em direção a Jerusalém, onde inicia o filme com Robin de Locksley (Kevin
Costner) preso junto com outros guerreiros e mouros. Graças sua habilidade
consegue escapar levando consigo Azeem (Morgan Freeman), um mouro que jurou
pagar uma dívida por salvar sua vida, e juntos conseguem chegar a Nottingham.
Lá descobrem que Lord Locksley, pai de Robin, foi assassinado pelo grupo
liderado pelo xerife (Alan Rickman), o qual tinha um plano para usurpar o trono
da Inglaterra. Tendo um desentendimento com o primo do xerife, Guy de Gisborne,
por salvar o pequeno Wulf (Daniel Newman), é considerado um fora da lei, e vai
em direção da floresta de Sherwood em busca de abrigo. Se encontrando com o
grupo liderado por John Little, prova sua coragem e faz amizade com esses
“homens da floresta”.
Após isso, o filme apresenta a
crescente popularidade do personagem, como qual nos é posta atualmente, como
aquele homem que “rouba dos ricos para dar aos pobres”, lutando contra os altos
impostos e a exploração dos colonos. Enraivecido o xerife de Nottingham, coloca
sua cabeça a prêmio e tenta assassinar Robin várias vezes, principalmente
quando este descobre seu plano de destronar o rei Ricardo, Coração de Leão (Sean
Connery). Até que finalmente consegue articular um ataque com sucesso ao
esconderijo de Hood, capturando alguns homens e o menino Wulf, e sequestrando
Lady Marion (Mary Elizabeth Mastrantonio) para forçá-la a se casar com ele e
gerar um filho legítimo, já que Marion era prima do rei.
O ápice do filme é a batalha para
salvar esses amigos capturados e a amada de Robin Hood. Montando todo um
esquema para entrar no castelo e havendo muitas batalhas e discursos
inspiradores, Robin juntamente com seu fiel amigo Azeem conseguem salvar Marion
e matar o xerife. A história termina em festa com o casamento de Robin Hood e
Lady Marion na floresta de Sherwood.
Análise
Apesar da trama já esperada, Kevin
Reynolds incorpora alguns personagens que não condizem com a lenda[2],
como o meio irmão de Robin, Will e a uma bruxa, que seria a mãe do xerife,
ambos os personagens são revelados no final do filme de modo inesperado, dando
um pouco mais de emoção a narrativa. Além disso, o diretor é coerente em
relação ao cenário, a floresta de Sherwood, as construções, o espaço físico em
geral, e se preocupa também com o figurino ambientado da época medieval.
Uma análise muito interessante que
podemos fazer é sobre a presença da Igreja Católica, já no início do filme onde
o pai de Robin contesta o porquê de realizar as cruzadas, impor a força uma
religião a outros grupos. Outro fato é a autenticação de um filho legítimo
apenas com o casamente efetivo, mostrado até de forma meio cômica no final da
histórica, quando o xerife quer se casar com Lady Marion e após isso estuprá-la
para conceber um filho herdeiro.
Outro ponto que merece destaque é a
tentativa por parte de Reynolds em quebrar com estereótipos acerca do Islã. Em
muitas cenas o diretor procura mostrar Azeem, o mouro, como sendo detentor de
tecnologias, como a luneta, onde ironicamente o estrangeiro pergunta “como seu
povo ignorante tomou Jerusalém?”, ao perceber que o protagonista ficou
assustado com o objeto; juntamente com o domínio do parto por cesariana. Traz
também na narrativa um pouco da religião islâmica, como os momentos de orações
e da recusa à bebida alcoólica, entre outras características que desmistificam
essa cultura, fazendo comparações com a Igreja Católica. Sendo assim, um dos
principais pontos do diretor é quebrar com essa ideia de “selvagem”, modo como
são apresentados os mouros durante as Cruzadas.
Agora
retornando a coerência com a lenda, o personagem Robin Hood é visto como o
autêntico herói: homem, forte, atencioso, humilde, que junto com seu carisma e
sua paixão procura salvar todos, e com coragem enfrenta todos os desafios. Esse
estereótipo de “homem do bem” é muito presente tanto nas lendas a partir do
final do século XVIII, como nos filmes, nos desenhos e nas obras literárias. Na
parte dos “maus”, se encontram o arqui-inimigo de Robin, o Xerife de
Nottingham, porém no filme de 1991, a verdadeira mente do mal é a chamada
bruxa, a mãe do xerife, que é quem bola todo o trama para usurpar o trono da
Inglaterra, deixando seu filho mais como um “peão” do plano. Essa separação
entre o bem e o mal é muito evidente na narrativa, corrente nos filmes
hollywoodianos.
De forma geral, o filme apresenta
muitas características que coincidem com a época do final do século XII e
início do XIII, como a Terceira Cruzada comandada por Ricardo I, momento em que
se passa a narrativa e também nos demais aspectos físicos, como os já
contemplados anteriormente. Porém não devemos deixar de criticar a mentalidade
dos personagens, referente aos ideais de heróis de séculos posteriores. Como
apresentado por Roberto Sinqueira,
“Kevin
Reynolds até apresenta cenas interessantes, [...] mas infelizmente o longa não
passa de uma diversão sem compromisso. Talvez Reynolds tivesse a melhor das
intenções ao juntar um ótimo elenco para contar a lendária história de Robin
Hood. Mas, nas palavras de Azeem, ‘não existem homens perfeitos, somente
intenções perfeitas’” [3].
O filme conseguiu fazer muito
sucesso ao ser lançado e conquistou o Grammy Awards na categoria “Best Song Written Specifically for a Motion
Picture or Television” em 1992, com a trilha sonora de Bryan Adams, “(Everything I Do) I Do It for You",
além de fazer referências coerentes com a época medieval, apresentando os
problemas como a fome e a pobreza e o imaginário sobre os mouros. Contanto, não
se preocupa em se basear em fatos históricos concretos.
As diferentes percepções sobre a
figura de Robin Hood ajudam a compreender como cada época pensou as relações
entre a lei e a exclusão social. Além disso, a adição e mudança de certos
personagens revelam o contexto de cada período e o local em que foram
produzidos, assim como os problemas, as necessidades e os desejos desses
indivíduos. Desse modo, deve-se analisar não o personagem em si, mas o que ele
representa para aquela determinada sociedade.
Por Talita Garcia Ferreira
Aluna do curso de História FAED – UDESC
Turma de História
Medieval 2013/2
[1] (DUARTE, Fernando, Em busca de Robin Hood, in Aventuras na
História, 2010). Disponível em http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/busca-robin-hood-565163.shtml.
[2] Existem diversas lendas sobre o
personagem de Robin Hood, a maioria delas segue uma narrativa central que
consistem em um homem que rouba dos ricos para dar aos pobres, sendo
acompanhado por dois fiéis amigos.
[3] (SINQUEIRA, Roberto, Robin Hood: Prince of Thieves, in Cinema
e Debate, 2010). Disponível em http://cinemaedebate.com/2010/12/23/robin-hood-%E2%80%93-o-principe-dos-ladroes-1991/