Filme: O Feitiço de Áquila (1985)
Diretor: Richard Donner
País:
EUA
Idioma
original: inglês
Duração:
121 min.
Gênero:
fantasia
Sobre o diretor:
Richard Donner
nasceu em Nova Iorque no ano de 1930. Diretor de cinema, foi um dos únicos a
conseguir finalizar quatro filmes seguidos (a série de filmes Lethal Weapon, ou
Máquina Mortífera, como é conhecido no Brasil).
Sua carreira alavancou após o lançamento de Superman: The Movie, em
1978.
Filmografia:
Como
diretor:
1976 – The Omen (A Profecia)
1978 – Superman: The Movie (Superman – O Filme)
1980 – Superman II
(Superman II – A Aventura Continua
1985 – Ladyhawke (O
feitiço de Áquila)
1985 – The Gonnies (Os
Gonnies)
1987 – Lethal Weapon
(Máquina Mórtifera)
1988 – Scrooged (Os
Fantasmas Contra-Atacam)
1989 – Lethal Weapon
(Máquina Mortífera 2)
1992 – Lethal Weapon 3
(Máquina Mortífera 3)
1998 – Lethal Weapon 4 (Máquina Mortífera 4)
2006
– Superman II – The Richard Donner Cut
Resenha do filme:
O imaginário acerca da
Idade Média, repleto de aventura e magia, ganha uma história de amor proibido.
O filme se passa na Europa, mas não é mostrado em nenhum momento a data, e
conta a história de Phillipe Gaston, mais conhecido como Rato. Este foge das
masmorras de Áquila, considerada uma das prisões mais seguras de toda a Europa.
Ao sair de lá, seu caminho cruza com Etienne de Navarre, viajante misterioso
que anda sempre junto de seu falcão negro.
Etienne, ao conhecer a
história de Rato, não imaginava coincidência maior, já que ele precisava entrar
em Áquila e conseguir matar o bispo. A princípio, Rato não entende o porquê
disso, mas logo descobre: há alguns anos, o bispo de Áquila possuía uma paixão
obsessiva por Isabeau d’Anjou, uma linda jovem. Entretanto, Isabeau era
apaixonada por Etienne. Após serem descobertos, o casal foge para longe do
bispo e de Áquila. Entretanto, o bispo, no auge de seu ciúme, faz um pacto com
o demônio e invoca uma maldição para o casal: durante o dia, Isabeau era
obrigada a se transformar em um falcão, enquanto Etienne permanecia como
humano. Já durante a noite, Etienne era obrigado a se transformar em um lobo,
enquanto Isabeau se tornava humano. Dessa maneira, o casal permaneceria junto,
mas nunca conseguiriam viver o sentimento que dividiam. A partir disso, se
desenrola uma busca pelo fim da maldição, permeado de muita aventura e romance.
O filme segue o perfil
hollywoodiano. Grande parte da narrativa é focada na busca por acabar com a
maldição, e assim, o casal protagonista poder viver em paz. Não obstante,
alguns elementos se tornam recorrentes na história para torná-la mais dinâmica,
como as batalhas ocorridas, sendo que estas são pouco verossímeis, colocando
Phillipe e Etienne como heróis.
Numa das cenas iniciais
do filme, quando Navarre resgate Phillipe dos homens do bispo, a batalha que
ocorre entre ambos coloca Navarre como sendo o guerreiro mais bem treinado,
pronto para destruir qualquer um que cruzasse seu caminho. Um recurso utilizado
para dar um toque a mais à cena é a trilha sonora, dando um ar de heroísmo.
Outro fator é o humor desenvolvido no personagem Phillipe, já que as cenas mais
divertidas ficam por conta deste.
A questão histórica do
filme acaba ficando em segundo plano, mas podemos perceber uma tendência a colocar
a Igreja como uma grande estrutura, sendo que diversos grupos sociais, como o
exército, estão submissos a ela. Para determinar tal poderio, temos como
exemplo o próprio bispo de Áquila e a masmorra. Podemos citar um diálogo entre
o bispo e um dos seus guardas, que para autenticar o perigo que Etienne causava
para a sociedade, disse que havia recebido uma visita divina durante a noite, e
que nesta havia recebido a notícia de que o mensageiro de Satã estava entre
eles, e que atendia pelo nome de Etienne de Navarre. Logo, precisava ser
expurgado da sociedade.
Em boa parte do filme
percebemos no personagem de Phillipe predisposição para “conversar com Deus”,
ou seja, tudo era motivo para estar em contato com o divino. Pedir perdão e
desculpas, solicitar alguma coisa, ou até mesmo rogar algum conselho. E isso
não está tão distante da sociedade medieval. Essa conexão com Deus e o divino
permeou grande parte do pensamento da época, e é um dos pontos que pode ser
discutido em sala de aula.
Ao passar o filme em
sala de aula, um ponto de partida é mostrar de que maneira o período medieval
está presente em nossa sociedade, através de jogos eletrônicos, filmes e
livros, tornando-se quase uma febre. No entanto, essas representações muitas
vezes não condizem com os valores da época, o que acaba gerando uma série de
estereótipos, retratando esse período como sendo repleto de magia e aventuras.
No caso desse, um dos pontos principais é a própria maldição, que transformava
os protagonistas. Outro ponto a ser questionado é a própria figura do bispo de
Áquila. A Igreja na época tinha grande poderio e influência, mas da maneira com
que ela é retratada no filme, acaba se tornando uma espécie de vilã para a
sociedade. O bispo, no filme, é moldado como um vilão ambicioso, que não mede
esforços para atingir seus objetivos. Além de tudo, o professor pode passar
para o aluno, de maneira breve, a trajetória do diretor no cinema, procurando
destacar sua experiência com filmes de temática histórica. Apesar de o cinema
ter o objetivo de entreter, o aluno deve captar as mensagens que o filme traz,
pensando se realmente a proposta do diretor é nos fornecer um retrato histórico
ou apenas uma história de amor proibido com um cenário medieval. Como foi
percebido, o diretor acaba optando mais pela segunda opção, apesar da presença
de alguns elementos medievais.
Por
Lucas Kammer Orsi
Aluno
do curso de História FAED – UDESC
Turma 2013/1
Sugestão de atividade
Apesar
do intuito de entreter o público com uma história de amor cercada de
obstáculos, o filme O feitiço de Áquila
permite mostrar alguns pontos do pensamento da época. O mais notável, que é
representado pelo personagem Philipe Gaston, ou Rato, é o imaginário
da sociedade medieval permeado de sentimentos religiosos. O professor, após a
exibição do filme, pode iniciar um debate levantando essas questões na sala de
aula, referenciando que a população tinha o sagrado como um referencial, um
guia. Para auxiliar nesse debate, o professor pode fazer conexões com
documentos históricos, principalmente o excerto escolhido de um Sermão, escrito
por São Cesário de Arles (470-543).
Sermão 13 (para uma paróquia rural), de São Cesário de Arles ( 470-543):
“III. (...) Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível, pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?
Disponível em: http://www.ricardocosta.com/extratos-de-documentos-medievais-sobre-o-campesinato-secs-v-xv#sthash.j0dItIwd.dpuf
Sermão 13 (para uma paróquia rural), de São Cesário de Arles ( 470-543):
“III. (...) Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível, pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?
Disponível em: http://www.ricardocosta.com/extratos-de-documentos-medievais-sobre-o-campesinato-secs-v-xv#sthash.j0dItIwd.dpuf
O
excerto acima evidencia principalmente a posição da Igreja perante a sociedade,
sendo considerada aquela que resolvia qualquer tipo de problema, nesse caso a
doença. E ainda afirma, que quem a procura, terá o perdão dos pecados, algo de
suma importância para o homem medieval. Logo, não haveria a necessidade de
recorrer a práticas não cristãs, consideradas demoníacas no período. Dessa
maneira, o professor aproxima o estudante de questões que permearam a Idade
Média, contextualizando com um documento escrito no período. Como amparo, o
professor pode ler o capítulo intitulado As
estruturas mentais (pgs. 138-154), contido no livro A Idade Média: O Nascimento do Ocidente, do Hilário Franco Júnior.
Nesse capítulo, o historiador discute com uma linguagem didática os fundamentos
do pensamento medieval, tomando como base alguns elementos. Dentre eles a visão
hierofânica do mundo, ou seja, a influência da religião e dos dogmas de Deus
nas práticas cotidianas, a comunicação com o mundo divino, o simbolismo, o
belicismo e o contratualismo, ou seja, a luta entre o bem e o mal.