Idade Média?

“Idade Média”, ”História Medieval” ou “Medievo” são referências a um período da história europeia, compreendido entre os séculos V e XV. Transição da Antiguidade para a Modernidade.
A Idade Média foi um período de intensas transformações. Há um novo sistema econômico, baseado no campo, o feudalismo, que não se aplicara de forma igual em todos os lugares; divisões religiosas, presentes dentro da Igreja Católica e no Islamismo; revoltas camponesas que objetivaram melhores condições de vida; intensas disputas por poder, por ascensão hierárquica; guerras por questões religiosas e econômicas e tantos outros fatores, por vezes ocultos por um saber estereotipado do período, restrito à cegueira mística do domínio religioso ou ao encantamento inventivo da sociedade cavalheiresca, seus castelos, lendas e maravilhas.
Na sociedade contemporânea, há uma grande valorização desse período, sobretudo na indústria cinematográfica. A presença de filmes com essa temática é a cada dia mais comum. E junto com esta “febre de Idade Média” em Hollywood, nascem algumas questões: Em que medida esses filmes nos ajudam a compreender a história medieval? Como devemos assisti-los? De forma passiva, como puro entretenimento? Certamente não. Ou, pelo contrário, como críticos intolerantes, cobrando-lhes a precisão dos textos acadêmicos? Tampouco. Talvez mais do que buscar fidelidade absoluta à historiografia, possamos encontrar nestes filmes faíscas para um debate em sala de aula: que imperfeições merecem ser problematizadas? Quais imagens ajudam a melhor assimilar lógicas distantes de um passado longínquo? Como transcender uma interpretação exclusivamente narrativa dos filmes para ir ao encontro de indícios de sua produção, relacionados, portanto, ao presente em que foram feitos, o que os torna não mais uma forma de historiografia, mas documentos, fontes para uma história do tempo presente.
Conhecer a “Idade Média dos dias de hoje” – a ideia que dela se faz atualmente – é um desafio que pode ser vencido através de um contato mais efetivo com a filmografia que a cerca. Mais do que conhecer as dinâmicas daquele período distante que demarca o nascimento do Ocidente, é preciso questionar também os usos do passado que cercam o “momento medieval” na contemporaneidade.
Por Professor Marcelo Robson Téo,
Lucas Kammer Orsi,
Lucas Santos

Ivanhoé (1952)

Filme: Ivanhoé (1952)
Diretor: Richard Thorpe
País: Estados Unidos
Idioma original: Inglês
Duração:106 minutos
Gênero: Aventura





Sobre o Diretor:
Richard Thorpe nasceu em 24 de fevereiro de 1896 em Hutchinson em Kansas, começou atuando e dirigiu seu primeiro filme em 1923. Foi um diretor conhecido pela sua longa carreira nos estúdios da MGM, participou da direção de mais de 180 filmes, tendo entre eles três filmes com o a temática medievalista, estrelando Robert Taylor, que incluía Ivanhoé (1952), Os cavaleiros da Távola Redonda(1953) e As Aventuras de Quentin Durward (1995). Não possuíam uma interligação, todos eles gravados em estúdios britânicos da MGM, estes filmes ajudaram a construir um imaginário sobre os cavaleiros medievais e seus códigos.

Sobre o Romance que Inspirou o Filme:
Escrito por Walter Scott, o romance conta os esforços do cavaleiro Wilfred de Ivanhoé para resgatar o rei Ricardo Coração de Leão, que havia sido sequestrado por Leopoldo da Áustria. Leopoldo pediu a quatis de 150.000 marcos de prata pelo resgate de Ricardo, logo após a terceira cruzada. O príncipe João mesmo sabendo da condição de seu irmão nega o resgate
O romance surge em 1820 com o objetivo nacionalista de exaltar os valores e códigos dos cavaleiros, e também o heroísmo inglês frente aso franceses. O romance obteve tamanho prestígio que deu ao autor o título nobiliárquico de Sir.

Resenha do Filme:

O filme conta a história do cavalariço do rei, Ricardo Coração de Leão, que é mantido como cativo por Leopoldo da Áustria, que cobra um alto resgate. Ivanhoé (Robert Taylor) tenta conseguir esse resgate com seu pai e os saxões, no entanto tal grupo não dispõe da quantia total. Ivanhoé acaba criando um laço de amizade com um judeu chamado Isaac, pedindo-lhe ajuda para levantar o dinheiro do resgate, assegurando da parte do rei que os judeus teriam um melhor tratamento. Logo depois Ivanhoé é recompensado pela filha de Isaac (Elizabeth Taylor) com uma caixa de joias para que pudesse competir num importante torneio.
No campeonato ele desafia todos os campeões da Normandia, vencendo com facilidade os três primeiros. Ele vence o quarto, mas fica gravemente ferido. Na última luta, enfraquecido, acaba caindo e tem de ser levado para ser cuidado pela filha de Isaac. Querendo escapar do príncipe João, ele é levado a floresta sob o cuidado de Robin Hood. Enquanto isso seu pai, sua noiva (Jean Fontaine), e a filha de Isaac são capturados e mantidos como reféns. Sabendo disso ele se dá em troca da liberdade deles, os normandos não honram sua palavra e mantem todos cativos.
Ivanhoé consegue resgatar todos, menos a filha de Isaac, que é usada como escudo por um cavaleiro normando que se apaixona por ela, logo depois ela é sentenciada a fogueira, porem Ivanhoé invoca o desafio veredicto em que deve lutar com o cavaleiro que se apaixona por ela. Nesse meio tempo é mandado o valor do resgate de Ricardo, o duelo acaba com a vitória de Ivanhoé e com Ricardo voltando para reaver seu trono.

O Filme e a Idade Média

O filme mostra uma visão romantizada da Idade Média, e também dos cavaleiros. É importante frisar que o filme é baseado em um romance que possuía o intuito de exaltar a Inglaterra frente a França, bem como o heroísmo de seus cavaleiros. Essa ideia nacionalista, e de exaltação de valores de outra época foi usado pelo escritor pra mostrar a coragem do ingleses diante aos franceses, ao vencerem o imperador Napoleão Bonaparte na batalha de Waterloo em 1815. Não é à toa que os cavaleiros saxões são mostrados como honrosos e corajosos, exemplo disso é o trecho em que o
protagonista se entrega em troca de seus conhecidos e os cavaleiros normandos não honram o trato. Não faltam no filme insultos aos cavaleiros normandos pela parte do saxões. Não por acaso o filme foi muito bem recebido na Inglaterra.
As cenas de batalhas são lindamente coreografadas, os figurinos são bem detalhados e muito bem feitos. Porém o filme peca um pouco no que diz respeito a contar a história e acaba dando muita atenção ao visual, deixando a desejar nos diálogos que muitas vezes são curtos e com poucas informações, o que altera a lógica de continuidade.
Apesar do protagonista, Ivanhoé, é interessante lembrar que os personagens coadjuvantes muitas vezes desempenham um papel crucial na história como por exemplo Robin Hood e também o cavaleiro templário normando Bois Guilbert que seria o principal rival de Ivanhoé.
O filme acaba sendo um daqueles clichês de hollywood, a narrativa clássica com mocinho vilão e donzela, e apesar de não ser tão preciso historicamente principalmente pelo fato de ser baseado num romance do século XIX, ele ainda serve para nos mostrar o imaginário criado acerca da época e também dos códigos de conduta da sociedade cavaleiresca.
Este filme pode ser uma ótima ferramenta em sala de aula, uma vez que nos ajuda a enxergar as apropriações contemporâneas da Idade Média, sejam elas campeonatos de lutas medievais, restaurantes temáticos entre outras apropriações do passado, nos mostrando que não só do passado se ocupa história mais também de suas apropriações no tempo presente.


CURIOSIDADE: O filme teve três indicações ao Oscar de melhor filme, melhor cinematografia, melhor música e também dois prêmios do globo de ouro como melhor trilha sonora e também por promover a paz entre os povos. Para maiores informações sobre a sociedade cavalheiresca, ver DUBY, Georges. A sociedade cavalheiresca. São Paulo: Martins Fontes, 1989.



Por André Vinicius Durante Piva
Aluno do curso de História FAED-UDESC
Turma 2013/1

Henrique V (1989)

Filme: Henrique V (1989)
Diretor: Kenneth Branagh
País: Reino Unido
Idioma original: Inglês
Duração: 137 minutos 
Gênero: Drama, Ação e Biografia






William Shakespeare foi um poeta e dramaturgo inglês tido como o maior escritor do seu idioma. Suas peças foram traduzidas para os principais idiomas do mundo, muitos de seus textos e temas, especialmente os de teatro, permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo trazida com freqüência pelo teatro, televisão, literatura e, é claro, o cinema.

No ano de 1989 foi lançado o longa HENRIQUE V, que com certeza é um grande marco da passagem literária para os cinemas. No filme Henrique V Shakespeare irá falar da Europa em pleno século XIV, dos reinos da França e da Inglaterra, e o problema da sucessão ao trono francês. Com a morte de seu pai, o rei Henrique IV, Henrique V assume o trono da Inglaterra.
E logo após conseguir pacificar os conflitos internos, o novo monarca dedica-se à política externa, com ênfase para sua pretensão de conquistar a coroa da França. Tendo como apoio os nobres que são manipulados perante o interesse da igreja. Tal pretensão baseia-se no fato dele ser bisneto de Eduardo III, o rei que julgou ser legítimo herdeiro do trono francês
Com base em seus argumentos, Henrique V envia um emissário à França reivindicando vários feudos. Diante da negativa francesa, ele prepara um pequeno exército para invadir aquele país. Os franceses, entretanto, estavam cientes de todos os passos que Henrique V daria, graças ao fato de contar com a traição de três homens importantes e próximos dele. Mas a traição foi descoberta pelo próprio, que conseguiu embarcar para França.
Ao desembarcar na França, Henrique V enfrenta os franceses em Harfleur, sem maior resistência, em seguida vai tomando as outras cidades costeiras. Ao descobrir que
um de seus homens havia roubado uma igreja francesa, o pune com a morte por enforcamento. A seguir, ordena que, durante sua marcha pelo país, nada seja extorquido dos povoados e que nenhum francês seja menosprezado. No decorrer do filme nota-se que tanto o diretor, quanto o escritor, tinha a intenção de glorificar o rei Henrique V como símbolo da coragem e vigor.
A noite que antecede a grande batalha entre os dois exércitos é extremamente tensa para os ingleses, pois estes sabem da superioridade em relação a quantidade do inimigo que era maior. Num longo discurso para seus homens, Henrique V apela para a bravura e o patriotismo deles, além de convencê-los que estão lutando por uma causa justa.
Essa parte do filme sem dúvidas é uma das mais importantes e impactantes, graças ao recurso utilizado da trilhar sonora. Uma música que começa em um nível fraco, mas com o decorrer da cena ela vai aumentada, fazendo com que o discursos pareça cada vez mais real e convincente.
Ao amanhecer o dia, ocorre a tão esperada batalha. Tendo em seus arqueiros seu ponto mais forte, enquanto a cavalaria francesa tenta alcançá-los, resultando em grandes mortes. Os que conseguem alcançá-los iniciam uma luta corpo-a-corpo. Em geral, as tropas lideradas por Henrique V saem vitoriosas, registrando uma perda de poucos homens comparados ao número de franceses.
Após meses de negociações, Henrique V é declarado herdeiro do trono da França, e casa-se com sua prima.
O filme Henrique V pode ser trabalhado em sala de aula de diversas formas. Uma delas é a problematização das fontes: como pensar em uma reconstrução histórica a partir de uma fonte literária (no caso shakespeariana) ou fílmica? A partir desse debate o professor pode orientar o aluno no contato com fontes históricas distintas, guiando a reflexão sobre seus usos e necessidades de problematização.



Por Roberto Levy Schiante
Aluno do curso de História FAED-UDESC
Turma de História 2013/1

Alexander Nevsky (1938)


Filme: Alexander Nevsky (1938).
Diretor: Serguei Eisenstein e DmitriVasilyev (diretor adjunto, colocado pelo governo)
Fotografia: Eduard Tisse (fiel companheiro de Eisenstein).
Trilha Sonora: Serguei Prokofiev.

País: URSS (Rússia).
Idioma original: Russo.
Duração: 111 minutos (oficial), 108 minutos de filme.
Gênero: Drama Histórico.



Sobre o diretor:


             “Não é surpreendente,
(...) que a natureza afirmativa
de Eisenstein o tenha levado
para a esfera do cinema”.

Vinicius de Moraes.

                Serguei Eisenstein (1898 – 1948), foi um diretor e teórico de cinema. Ganhou fama mundial pelo seu estilo vanguardista experimental, pioneiro nas superproduções soviéticas da época, portanto revolucionário para a história do cinema, trazendo junto a seu estilo experimental técnicas até então não exploradas pela arte cinematográfica. Em “Outubro” (1928), retrata através da revolução bolchevique de 1917 o espírito revolucionário de sua geração. Seu filme mais aclamado pela crítica e público, e também sua mais influente produção é “O Encouraçado Potemkin”,produzido em 1925 para comemorar os vinte anos do levante ocorrido na cidade de Odessa contra o Czar Nicolau II, a prévia da revolução russa.

            Eisenstein estudou engenharia e arquitetura, a primeira era a profissão de seu pai, que mais tarde fez parte do exército branco. Junto a seus colegas da época decidiu fazer parte do exército revolucionário vermelho, o que o distanciou de seu pai, que, após a revolução, foi para a Alemanha. Sua mãe já havia anos antes partidos para França. Dentro do exército, conseguiu prestigio após usar de sua criatividade artística para produzir filmes pró-revolução, como “A Greve” (1924). Eisenstein era comunista, mas em variados momentos se mostrou em posição crítica em relação ao governo stalinista.
Filmografia (Como diretor e roteirista):

1923 Diário de Glumov (curta)
1925 A Greve
1925 O Encouraçado Potemkin
1927 Outubro: Dez Dias que abalaram o mundo
1929 A Linha Geral ou "OldAnd New"
1930: Romance sentimental (França)
1932¡Que viva México! lançado em 1979
1937 Bezhin Prado
1938 Alexander Nevsky
1944 Ivan o terrível, parte I
1945 Ivan O Terrível, Parte II

Sobre a lenda medieval que inspirou o filme:

             A dois pontos principais que interagem de forma essencial dentro da historiografia retratada no filme, que são, a lenda de Alexandre Nevsky(1220–1263), príncipe russo,  quarto da linhagem real portando dificilmente seria rei, mas o povo de Novgorod convoca Alexandre para ser o líder militar contra a invasão dos suecos, no entrave militar que ficou conhecido como Batalha de Neva(1240). As tropas russas vencem a batalha em menor número e Alexandre ganha prestígio, tornando-se príncipe de Novgorod. Ganha a alcunha de “Nevsky”, devido a Neva (Rio onde ocorreu a batalha com os suecos).  Considerado santo posteriormente pela igreja ortodoxa (e devido ao movimento ecumênico também se tronou santo católico), liderou a pátria russa durante certo período da baixa Idade Média, preservando o caráter ortodoxo da religião cristã em território russo.
            Herói do povo de Novgorod, Nevsky desperta inimizade dos aristocratas da região (os chamados boiardos, grandes latifundiários e principais legisladores do Principado de Kiev), isso resulta no abandono de Alexandre para outras terras. Porém com a possível invasão dos Cavaleiros Teutônicos germânicos, o povo de Novgorod clama pela volta de Alexandre. Pouco mais de um ano de seu exílio ele retorna para derrotar os Cavaleiros Teutônicos. Livra o povo russo da expansão católica, revolucionando as táticas de guerrilha, derrotando cavaleiros bem protegidos e montados através de sofisticadas táticas de sitiamento. Alexandre Nevsky se torna uma lenda nacional, o principal “herói” da Idade Média russa.

Resenha do filme:
            Após a invasão mongol (retratada logo no início do filme, onde um representante mongol oferece um cargo de liderança dentro da “Horda Dourada” a Alexandre, e ele o recusa), e a batalha contra a invasão ao norte dos suecos, Alexandre Nevsky se exila com um grupo de ex-militares. A invasão de Pskov pelos Cavaleiros Teutônicos Germânicos estava em curso. Esses pretendiam espalhar o poder territorial e expansão do cristianismo católico, marchando rumo a Novgorod, porém a população da cidade clama pela volta de Alexandre Nevsky, e que ele lidere as tropas russas em uma batalha contra os germânicos.
            Eisenstein, que já havia dirigido filmes de configuração nacionalista, como “Outubro”, estava acostumado a enfatizar o orgulho socialista russo. Porém seus filmes até então retratavam histórias de um passado muito próximo e com relações diretas com a realidade contemporânea da época (não que os ocorridos por Nevsky não tinham, e tenham importância hoje). Eisenstein nessa obra novamente pretendia fazer um ponto com o contemporâneo (possíveis invasões do território russo por alemães nazistas liderados por Hitler), mas de forma diferente, resgatando outro conflito entre os antepassados desses mesmos dois povos, Russo (agora socialistas soviéticos), e germânicos (agora nazi-fascistas).
           Nesse filme percebe-se uma diferença no trabalho de Eisenstein, menos experimental e vanguardista e mais romântico, ocidental, convencional (partindo do ponto também ocidental de cinema ligado a lógica de mercado comercial). O diretor destaca a imagem do herói russo, Nevsky, o exemplo a ser seguido pelo povo soviético, exemplo de resistência e vitória, aspecto bastante utilizado pelo cinema estadunidense.
            Para quebrar o clima de ligação ofensiva direta com os conflitos contemporâneos, Eisenstein traz ao seu filme o romance, dois cidadãos de Novgorod, que ganham importante patente durante a batalha, lutam pelo coração da donzela amada, porém apenas um dos citados termina o filme como par romântico dela, enquanto o outro inicia uma relação com uma quarta personagem, que havia perdido seu pai após a invasão teutônica, e decide com bravura lutar entre o exército composto por homens.
            É interessante destacar três pontos fora do eixo narrativo central do filme. Primeiro a forma como Eisenstein relacionou o cristianismo ortodoxo com sua perspectiva de estado soviético laico contemporâneo, são raras às vezes, dentro do filme, em que se relaciona o cristianismo (de qualquer natureza) com a imagem de Alexandre Nevsky, ou dos combatentes russos. A não ser no final do filme, antes do discurso final de Nevsky, e as comemorações da vitória, nesse momento surgem à imagem do crucifixo, e de uma tradição oratória cristã, mas de forma bem passageira e com pouco destaque.
            O segundo ponto, em oposição ao primeiro, diz respeito à imagem dos cavaleiros Teutônicos passada ao espectador. Todas as cenas que fazem referenciam ao lado germânico, o aspecto católico é retratado com contundência e de forma bastante obscura e maléfica, com uma perspectiva de filmagem mais lenta e centralizada na famosa cruz dos cavaleiros das cruzadas.
            E por fim o aspecto sonoro do filme, destacando o trabalho de Serguei Prokofiev, um dos maiores compositores da era soviética. O filme segue com poucas falas, e as tomadas que reverenciam a paisagem são longas. Prokofiev faz um trabalho sonoro incrível, em todos os momentos que não há fala no filme passa ao espectador  a sensação idealizada para cada cena, agindo de forma conjunta com a imagem. Na primeira aparição dos germânicos a trilha traz um aspecto de horror constante, nas aparições de Nevsky, um som mais sereno e tranqüilo. Na guerra o som é constante, o que traz o aspecto de rapidez aos acontecimentos.
            Após acordo assinado entre a URSS e a Alemanha Nazista em 1939(Pacto Ribbentrop-Molotov), o filme é tirado de circulação, por ameaçar o clima de paz entre essas nações. Mas volta às prateleiras e à circulação mundial de forma ainda mais ferrenha, após a invasão nazista ao território soviético em 1941.
            Nevsky entra para a história ao derrotar o exército Teutônico, estabelecendo a paz e a interna ortodoxia cristã nacional. Na invasão nazista de 1941, o objetivo alemão de chegar a Moscou não é alcançado, mesmo que a Alemanha por hora tenha dominado a Ucrânia, importante parte econômica soviética. O resultado foi à vitória das tropas vermelhas soviéticas, havendo, portanto, certa correlação histórica, no que diz respeito ao nacionalismo russo e o ideal socialista, os objetivos de resistência da segunda batalha retratada, e os objetivos do filme de Eisenstein.
            É um ótimo filme para se trabalhar em sala a temática medieval, ligada as guerras santas, assim como uma temática mais atual, trançando um paralelo entre a lenda de Nevsky e as turbulências políticas soviéticas no século XX, assim como propôs ao idealizar o filme o próprio Eisenstein. Utilizar a ficção histórica como fonte de pesquisa acadêmica necessita sempre do exercício de problematizar duas temporalidades: aquela da qual trata o filme e a que o filme foi realizado.
 
Por Gabriel Medeiros
Aluno do curso de História FAED - UDESC
Turma de 2013/1

A Flauta Mágica


Filme: A Flauta Mágica     
Diretor: Jacques Demy     
País: Inglaterra/Estados Unidos 
Idioma Original: Inglês      
Duração: 87 minutos         
Gênero: Aventura









Sobre o diretor:     
            De nacionalidade francesa, Jacques Demy é responsável por dirigir filmes vencedores de muitos prêmios. O conjunto de suas obras, produzido entre o início e o final das décadas de 60 e 80, parte de um olhar romanceado. Sua narrativa se fundamenta não só no desenrolar de um roteiro, mas busca envolver o espectador. Como afirma o próprio Demy, ao referir-se à sua obra “Duas Garotas Românticas”, que narra a história de duas irmãs gêmeas, artistas, que sonham viver aventuras em Paris: "Queria fazer um filme que despertasse um sentimento de felicidade, que, depois da projeção, o espectador saísse da sala menos triste do que quando tinha entrado”.    
            Com formação na Escola Técnica de Fotografia e Cinematografia de Paris, muitas de suas produções narram os desejos e os fascínios que a “Cidade Luz” desperta nos diferentes tipos de personagens por ele modelados.
            Frequente em suas obras, a música recebe um papel de destaque. Suas canções, compostas quase exclusivamente para o filme, merecem reconhecimento. Sua composição “I Will Wait for You”, presente no filme “Les Demoiselles de Rochefort”, assim como sua trilha sonora, foram
indicados ao Oscar.
Lenda que inspirou o filme:
               Popularmente conhecida, a lenda do Flautista de Hamelin foi registrada pelos Irmãos Grimm, famosos por se dedicarem ao registro de fábulas infanto-juvenis, no século XIX. Há muitas variações dessa lenda. Uma das versões, de modo resumido, narra:       

            Tempos atrás, na cidade de Hamelin, os habitantes sofriam com uma infestação de ratos. Em uma noite escura, chega à cidade um homem vestido com roupas muito coloridas, a tocar uma flauta. O prefeito da cidade quis conhecer o visitante, pois ficou sabendo que sua flauta era mágica. O prefeito então fez um trato com o flautista para que ele encantasse os ratos, levando-os para fora da cidade.
             Assim fez o estranho visitante, porém, o prefeito não pagou o combinado. Irritado, o flautista encanta as crianças para fora da cidade. Pressionado pelos habitantes, o prefeito resolve pagar o flautista, mas ele havia sumido. No dia seguinte, o prefeito e os habitantes da cidade encontram os corpos das crianças boiando nas águas de um rio próximo a cidade.

O FILME:
A Flauta e a Fogueira: Fábula e caos na Idade Média
            “Alemanha do Norte, 1349”. Essa referência espaço-temporal inicia o filme, assim como as referências históricas nele presente. A partir dela, podemos subentender que o propósito da obra seja construir uma narrativa histórica.
            Ok, mas essa proposta não se prende ao cenário descrito em livros! Construções cinematográficas, tal como essa, vão além, montam um cenário a partir de outros elementos. Assim nos afirma a especialista em língua portuguesa e pesquisadora de temas ligados ao período medieval, Lênia Márcia Mongelli:
Por “reminiscências medievais” devem-se entender as formas de apropriação dos vestígios do que um dia pertenceu ao Medievo, alterados e/ou transformados com o passar do tempo. Nesta categoria encontram-se, por exemplo, as festas, os costumes populares, as tradições orais de cunho folclórico que remontam aos século anteriores ao XV e que preservam algo ainda do momento que foram criados, mesmo tendo sofrido acréscimos, adaptações ou alterações no decurso dos séculos.
(MACEDO, José Rivair; MONGELLI, Lênia Márcia. A Idade Média no cinema. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009, página 15).
            Ou seja, mesmo baseando-se em uma lenda, a obra pode ser considerada uma narrativa histórica, pois a lenda é uma reminiscência, ela é fruto do imaginário da sociedade medieval.           
            Acompanhamos, na tela, o desenrolar da viagem de uma família de artistas que partem de Hanover para a cidade de Hamelin. No caminho, acolhem para o seu grupo outros dois viajantes, um peregrino que é apegado a relíquias sagradas e um músico. Deparam-se com casas e vilas abandonadas, infestadas de ratos. Todos esses elementos buscam ilustrar o cenário medieval. A fé nas relíquias sagradas surgia do desejo de salvação e proteção, sustentados por uma mentalidade cristã, dominante durante esse período. O músico itinerante que se sustenta por meio de apresentações em diferentes aldeias, reinos. E, referencial da Idade Média, a infestação de ratos, responsáveis pela temida peste negra, que resulta na morte de milhões de pessoas, além do caos e desordem gerados nas concentrações urbanas, devido ao temor da propagação da peste e dos discursos poucos eficazes proferidos pela Igreja e por outros governantes, que não visavam práticas preventivas ou reparadoras, mas buscavam culpados pelo “castigo de Deus” e aguardavam que o mesmo os livra-se daquele mal.           
            Em Hamelin, inúmeras histórias desenrolam-se. O velho e sábio Melius, denominado de judeu e alquimista, busca alertar e resolver os futuros problemas da cidade por meio de seus experimentos. Gavin, jovem manco, ajudante de Melius, frustra-se constantemente por seu problema físico e acredita que por causa dele não consegue desenvolver nenhuma habilidade; também o perturba a impossibilidade de poder ficar com sua amiga, talvez amada, Lisa. Ela, filha do prefeito, está destinada a casar-se com o Barão local. O prefeito, o Barão e um conjunto de bispos governam a cidade a partir das ordens do Papa Clemente VI – outra referência histórica – e seus desejos pessoais.  
            A trama desenvolve-se por conflitos existentes na cobrança de impostos, a opressão religiosa e o temor da expansão de doenças.
            Eis que surge o ápice, o bolo de casamento do Barão e da filha do prefeito “está recheado de ratos”. Igreja, governo e população buscam encontrar soluções para o problema. Repentinamente, o Flautista se dispõe a solucioná-lo. Agora, não vemos apenas o músico, mas o ser mítico resolvendo o problema. Surge aí um impasse: passa-se a confundir o real material e imaterial. Esses conceitos nos apontam que em uma única ação – o encantamento pela flauta – o flautista músico e sobrenatural se confundem, pois além da narrativa devemos crer nos poderes sobrenaturais do flautista para compreendê-la. Especialista em medieval, Jacques Le Goff nos afirma:  

“Esta primeira lista [refere-se a personagens citadas anteriormente; Merlin, Robin Hood, Papisa Joana, Melusina, Rei Artur, El Cid, Carlos Magno] mostra que, entre história e lenda, entre realidade e imaginação, o imaginário medieval constrói um mundo misto que constitui o tecido da realidade cuja origem se encontra na irrealidade dos seres que seduzem a imaginação dos homens e mulheres da Idade Média.” (LE GOFF, Heróis e maravilhas da Idade Média. Rio de Janeiro: Vozes, 2009, pág. 17).          
            Por fim, a obra é concluída com uma nova referência:        
 
“A Peste Negra terminou quatro anos depois, matando aproximadamente 75.000.000 de pessoas. A perseguição religiosa que se seguiu permanece sem paralelo até este século. Quanto ao Flautista Mágico, ele nunca mais foi visto, e se as crianças alcançaram as terras de suas canções, nunca se soube. Mas uma cruz jaz na praça da cidade, marcando o local onde as crianças dançaram..."
“... Há muito tempo, numa próspera aldeia, fora de Hamelim, na Terra de Brunswick”. (Robert Browing, 1888).


            Escolher Donovan* para representar o Flautista explicita o cuidado em ilustrá-lo como habilidoso. Talvez, não intencionalmente, apresentar uma pessoa de fácil confiança, pois o músico alcançara sucesso internacional na década de 70. Esse elemento também pode ser pensando a partir da ideia de um herói renascentista, caracteristicamente humanista, pois parece ser alheio ao contexto que pertence.
            Ainda assim, a narrativa da obra é formada, essencialmente, na busca por construir um cenário medieval. Seu ritmo diferenciado, mais lento que os demais filmes, quando associado diretamente ao período pode dar a ideia de lentidão.    
            Apesar desses elementos que comprometem a reprodução da obra em sala de aula, parece ser adequada para estabelecer paralelos com o período histórico de fato, especialmente, quando se refere à construção de uma imagem do período, pois nos é apresentado as relações de poder entre barões, prefeitos e líderes da Igreja; a cobrança abusiva de impostos; a insatisfação popular e preocupação com os recursos alimentícios – podendo ser relacionado com a origem de revoltas camponesas conhecidas na Idade Média tais como a revolta do Jacques e a revolta de 1381 na Inglaterra; a mutabilidade das ocupações do homem medieval, em que soldados trabalhavam na construção da Catedral e, extraordinariamente, o processo de associação da infestação de ratos com as doenças vindas posteriormente. Esses elementos presentes na obra oportunizam a visualização mental de casos particulares de um período histórico, tais como uma Idade Média Inquisidora e um medievo fantástico.


*Donovan Philips Leitch
É músico, multi-instrumentista e compositor do cenário musical britânico. Na década de 70 consolida seu sucesso alcançando fama internacional. Durante esse período, lança oito álbuns. Suas canções são essencialmente caracterizadas pelo estilo “folk”.
 


Propostas de Atividade:
   A análise desse filme nos permite inúmeras reflexões. Logo, sugerimos algumas propostas de atividades que visam auxiliar na compreensão de elementos presentes no filme.

    O Lendário   
Analisar a imagem e representação do Flautista no filme; compreender como ele foi construído e traçar paralelos com o “imaginário medieval”.
Projetos em parceria com as disciplinas de Literatura e/ou Artes podem ser realizados, visando compreender as diferenças entre as narrativas existentes, a representação mítica, a transposição de um ser “abstrato” para o “concreto”, e os limites existentes entre História e lenda.
Além disso, é possível incentivar comparações entre a lenda narrada por Robert Browing e como a mesma se faz presente na obra cinematográfica.
            Obra de Robert Browing pode ser acessada no link abaixo:
http://www.indiana.edu/~librcsd/etext/piper/

     A Música 
Esclarecer os diferentes usos e atribuições da música ao longo da História. Atentar para o uso de anacronismos na obra, tais como a utilização de um violão característico do século XVIII e o estilo musical, que se encontra muito distante do que, apesar de termos conhecimento sobre poucos registros, era produzido popularmente e do canto gregoriano que fora institucionalizado pela Igreja Católica durante a Idade Média e é um referencial da musicalidade do medievo.


    Saúde e Meio Ambiente      
Observar o planejamento urbano; as práticas de higiene e o preparo e armazenamento de alimentos.       Também, compreender os hábitos diários do cidadão do medievo. Realizar debate acerca da propagação de pragas e doenças, tal como a Peste Negra. Enumerar algumas práticas, viáveis para o período, a fim de conter a propagação de pragas e prevenção de doenças.


    Questão mítico-filosófica     
            Analisar como o alquimista Melius assemelha-se a um feiticeiro; estabelecer paralelos entre o alquimista que habita o imaginário medieval e o cientista. De maneira semelhante, discutir a Pedra Filosofal idealizada e a definição física e química desse objeto científico. 
A elaboração de projetos entre as disciplinas de história, física e química são de extremo valor para a consolidação de um melhor entendimento acerca das pretensões, desejos e idealizações do ser humano no Período Medieval.   
            Caso haja tempo, para melhor visualização de diferentes idealizações de um objeto ao longo do tempo, contrapor essa obra com o filme “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (Chris Columbus, 2001), a fim de traçar relações com as diferentes atribuições desse mesmo elemento. Considerar que esse filme, assim como toda a franquia, é um referencial na imaginação infanto-juvenil, além de ser constantemente citado em veículos de comunicação
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Por Lucas Santos
Aluno do curso de História - FAED/UDESC
Turma 2013/1

Robin Hood (2010)


Filme: Robin Hood (2010)
Diretor: Ridley Scott
País: EUA
Idioma original: inglês
Duração: 155 min.
Gênero: aventura.

Sobre o diretor:
Ridley Scott (1937) é diretor e produtor de cinema, inglês conhecido por longas-metragens históricos e de grande sucesso de bilheteria como o filme Cruzadas (2005) e Gladiador (2000). Ridley Scott foi indicado a diversos prêmios com o filme Gladiador e em grande parte é muito bem elogiado pela crítica. Seus filmes históricos sempre tratam de algum tipo de conflito, seja ele em batalhas ou de ideologias (um exemplo é o filme Cruzadas, que foi feito para tentar mostrar a cultura islâmica como algo naturalmente mal e que merecesse ser controlado e as pessoas presentes nesta religião salvas); ou o caso do filme 1492: A Conquista do Paraíso com representações de conflitos entre igreja e ciência, imaginário e realidade, o que nos permite analisar um pouco melhor escolhido para esta resenha que demonstra bem a rixa entre Inglaterra e França que posteriormente veio a dar origem a Guerra dos 100 Anos. Outro ponto que chama atenção é a religiosidade que aparece muito em seus filmes históricos e este não é exceção.

Filmografia:

Ø  Como Diretor:[1]

19921492: A Conquista do Paraíso
2000Gladiador
2005Cruzada
2010Robin Hood

Sobre a lenda medieval que inspirou o filme:
A Lenda de Robin Hood, muitas vezes chamado de Herói dos Pobres, surgiu na Inglaterra e provavelmente teria vivido no século XIII, porém sua primeira aparição na literatura dará do século XIV. Robin Hood pode ser interpretado como o introdutor de um personagem representativo dos foras da lei e/ou rebeldes justiceiros. 
Na lenda Robin Hood é interpretado como um grande herói das florestas e dos pobres que possui como seu maior inimigo a representação de um poder político e social, conhecido como xerife de Nottingham. Robin Hood então seria o herói que rouba dos ricos egoístas para realizar sua justiça e dar aos pobres o que, em sua visão, seria por direito deles.

A versão que exponho da lenda narra os seguintes fatos da vida deste herói do imaginário medieval: Em função da usurpação do trono, o príncipe John, teria passado a governar a Inglaterra, aumentando os impostos e também destruindo o castelo onde morava Robin Hood com seu pai, o barão de Locksley. Órfão e sem ter onde morar, o herói passa a morar na floresta junto a um grupo de homens liderados por ele. Juntos, lutariam contra o príncipe John.

Na versão de Ridley Scott, Robin Hood seria um cavaleiro que ao observar certos fatos relacionados a um golpe na coroa passaria a ser procurado para morte. Nesta versão ele também não é órfão, apenas foi abandonado pelos pais e é apresentado como um herói mais “humano” do que o das outras lendas envolvido pela luxuria, prazer e roubos pessoais ligados a este lado da justiça que é sempre presente.

Resenha do filme:
A sinopse do filme Robin Hood (2010), dirigido por Ridley Scott, chama inicialmente a atenção para característica de interpretação da lenda do herói medieval. Por esta sinopse, Robin Hood e o grupo de homens que vivia na floresta seriam ladrões e saqueadores que só se preocupavam consigo mesmos.


Robin Longstride (Russell Crowe) integra o exército do rei Ricardo Coração de Leão (Danny Huston), que está em plenas cruzadas. Após a morte do rei, ele consegue escapar juntamente com alguns companheiros. Em sua tentativa de fuga eles encontram Sir Robert Loxley (Douglas Hodge), que tinha por missão levar a coroa do rei a Londres. Loxley foi atacado por Godfrey (Mark Strong), um inglês que serve secretamente aos interesses do rei Filipe, da França. À beira da morte, Loxley pede a Robin que entregue a seu pai uma espada tradicional da família. Ele aceita a missão e, vestido como se fosse um cavaleiro real, parte para Londres. Após entregar a coroa ao príncipe João (Oscar Isaac), que é nomeado rei, Robin parte para Nottingham. Lá conhece Sir Walter (Max von Sydow) e Marion (Cate Blanchett), respectivamente pai e esposa de Loxley. (http://www.adorocinema.com/filmes/filme-126127/ acesso em 21/11/2013 às 12:00)



O ponto que mais ressalto e que seria o melhor a se trabalhar em sala usando este filme como material didático é a representação das batalhas medievais. Podemos notar isso logo no início do filme quando é mostrado o cerco realizado pelo Rei Ricardo Coração de Leão, juntamente com seu exército, a um castelo francês o que demonstra uma boa pesquisa em fontes históricas. A presença do rei nas batalhas, forte característica guerras medievais, também é demonstrada no filme, assim como a representação da rivalidade entre Inglaterra e França que acaba por ser muito bem observada na Guerra dos Cem Anos que ocorre séculos depois, um momento que mostra esta relação é quando o irmão do Rei Ricardo tem relações com a sobrinha do rei da Inglaterra o que é interpretado como dormir com o inimigo pela mãe de Ricardo, enquanto para o irmão é como uma estratégia.
Saindo um pouco da linha da Guerra, o filme representa também, de forma muito pertinente, a religião quando a todo o momento você tem referências à igreja católica e aclamações às suas principais figuras, este fato está completamente ligado ao momento em que o filme inicia. O cerco antes mencionado faz parte da última batalha – a terceira cruzada religiosa – onde um dos lideres, Rei Ricardo Coração de Leão, é morto, gerando o enredo da história.
Retornando ao foco da guerra a última cena do filme é fundamental quando se escolhe o foco das batalhas medievais ao trabalhar-se com este filme nas escolas. Esta cena demonstra a utilização dos territórios, no caso relevo, a favor do exército Inglês que possuía a estratégia dos arqueiros ficarem em uma posição mais elevada facilitando o ataque e principalmente a defesa de algumas regiões, nesta questão dos arqueiros é interessante a fidelidade dos arcos. O filme representa muito bem a utilização dos Longbow pelos ingleses e das Bestas utilizadas pelos Ingleses.
A questão de guerra não está ligada apenas a veracidade da simulação das batalhas colocadas no filme, mas também em toda a lógica dos cavaleiros, como o respeito perante o rei em batalha, assim como a presença dele nas batalhas. Outro ponto de ligação com a lógica das batalhas é a ligação especial que se tem muitas vezes com o  trazer notícias as famílias, além de valorizar quem é o portador da mesma, seja ela boa ou ruim, podemos observar no ritual pelo qual Robin Hood é forçado a passar para informar da morte do rei.
No filme pode-se observar também a questão da honra muito presente, seja ela em lutar até a morte, a lealdade aos seus “irmãos de grupo” como é o caso do grupo de Robin Hood, ou a de honrar seus antepassados, garantindo que suas armas antigas e fatos sejam lembrados e passados as próximas gerações.
O imaginário que se faz no filme sobre estas batalhas também merece ser ressaltado em um debate sobre o filme. A ideia da morte em batalha do rei, pode-se observar um ritual criado para estes casos, (como se pode observar quando a notícia da morte do Rei Ricardo chega para a corte real), a manipulação que se consegue através dela e a presença de muitos cavaleiros que não necessariamente está ligada a ideia de glória ou de fé, neste caso ligada a cruzada, mas sim por uma ideia de salário e dinheiro, mesmo que muitas vezes eles não viessem a ter total esperança em receber os pagamentos está ainda era maior que a da fé religiosa, em alguns casos como retratado no filme.
A utilização de luzes e sons são extremamente fortes no filme e contribui para a criação do ambiente. Mesmo se passando na Idade Média o filme não se restringe a usar cores apagadas retratando ambientes escuros, colocando diversas cenas bem iluminas se comparadas as de outros filmes sobre o mesmo período.
Minha proposta, como já deve ter ficado claro, é que este filme seja trabalhado em sala analisando as guerras medievais, das quais ele é um bom exemplo, assim como para trabalhar as diversas interpretações que se tem das lendas dos heróis medievais.
Nesta interpretação da lenda, Robin Hood não é colocado como aquele herói que vive na floresta roubando dos ricos para alimentar os pobres, mas sim como um homem que sempre realiza algo por interesse. Ele vai às cruzadas talvez por fé, mas depois passa a ficar por interesse no dinheiro apenas, ele se passa por marido de uma determinada personagem por interesse no seu passado, por exemplo. A homem que vive nas florestas aqui é representado por um grupo de jovens que podem representar uma mistura que dá origem a lenda de Robin Hood que muitos contam, este grupo será treinado pelo Robin Hood deste filme.

Proposta de Atividade:


Existem diversas versões sobre este herói do imaginário medieval e algumas foram transformadas em filmes e desenhos, assim como em livros e series, e que divergem em muitas características, principalmente na temporalidade de vida de Robin Hood. Baseado nesse ponto das divergências uma boa proposta de atividade seria a de pedir que os alunos se dividam em equipe e pesquisem sobre diferentes manifestações midiáticas que se apropriaram da lenda trazendo para um debate em sala e buscando mostrar como esta lenda se modifica, se adapta e se articula com diferente momentos e culturas notando as divergências e os momentos de igualdade, sempre lembrando aos alunos que não irá existir uma resposta correta, afinal é um lenda, e permitindo que eles criem sua própria visão da lenda adaptada aos dias atuais.

Partindo deste debate em sala é possível discutir a função das lendas e mitos nos períodos em que são (re)formulados, entendidos como espaços de reinvenção do mundo.

Por Igor Lemos Moreira
Aluno do curso de História FAED – UDESC
Turma 2013/1





[1] [1] Esta lista se refere a filmes históricos dirigidos por Ridley Scott

1066 The Battle for Middle Earth (2009)

Filme: 1066 The Battle for Middle Earth (2009)
Diretor: Justin Hardy
País: UK
Idioma original: inglês
Duração: 150 minutos
Gênero: Drama Histórico - documentário
 
 
 
 
 

Sobre o Diretor:
Justin Hardy (1964) é um diretor, produtor e escritor Inglês, considerado um dos principais cineastas históricos do Reino Unido. Combinando seu mestrado em História no Magdalen College em Oxford e estudos de cinema na UCLA, se especializou em dirigir filmes de época, com sucesso de crítica e público. Como um historiador treinado, Hardy costuma dizer que a história não deve ser contada de uma maneira formal e séria e que o passado coletivo são histórias que devem ser contadas de maneira que o público se emocione, mas que em alguns momentos possa rir também.


Filmografia com temática medieval:
2004 – The Last Dragon (filme)
2005 – Princess in the Tower (filme)
2006 – A Harlot`s Progress (filme)
2008 – Heist (série de TV) The Saint & The hanged man (filme)
2009 – 1066 (série de TV)


Sobre o episódio histórico que inspirou o documentário:
A Batalha de Hastings foi um fato histórico ocorrido no dia 14 de outubro de 1066, perto do vilarejo de Hastings, na Inglaterra entre as tropas inglesas do rei Haroldo II e o exército invasor de Guilherme II, Duque da Normandia. O resultado foi uma vitória
decisiva de Guilherme e a morte de Haroldo II durante a batalha. Este sucesso concretizou a conquista normanda e o fim da dinastia de reis anglo-saxões na Inglaterra.

CURIOSIDADES:
Atualmente, no local onde ocorreu a batalha, existe uma abadia e uma lápide que assinala o local onde o rei Haroldo foi morto. Os eventos do episódio, encontram-se retratados em uma tapeçaria denominada tapeçaria de Bayeux, datada do século XI. Esta tapeçaria se encontra exposta em museu próprio na Normandia, protegida pela UNESCO como uma memória mundial. Também no mesmo local, encontra-se um museu multimídia e o campo de batalha pode ser visitado mediante pagamento de ingresso.
 
 

Fonte: https://www. ricardocosta.com/tapecaria-de-bayeux-c-1070-1080


Resenha do filme:
O filme mostra essencialmente duas batalhas travadas pelos ingleses. Uma primeira, contada resumidamente contra os invasores do norte e a principal, objeto da narrativa do filme, contra os invasores normandos, focando na decisiva batalha de Hastings, vencida por esses últimos que culminou com o fim do reinado anglo-saxão na Inglaterra. Cabe salientar que o filme não conta a história a partir de testemunhos de reis ou conquistadores, os personagens principais são os homens comuns que lutaram em nome deles. Todos os personagens, apresentados como heróis defensores da Inglaterra são fictícios, mas representam com perfeição os guerreiros que realmente existiram e lutaram pelo país. São eles do lado inglês: o experiente guerreiro Ordgar - o encarregado de alistar os homens, oriundo da aldeia inglesa de Crowhurst, o fazendeiro Leofric, o jovem recém-casado Tofi, que deixa sua esposa para se juntar aos guerreiros, os vikings vindos dos fiordes do norte Gyrd - o gigante, Hakon, um jovem comandante e Snorri, um contador de histórias. O lado normando é representado pelos personagens Ozouf - o cruel, Drogo – o mudo e Countances -o barão, também uma vitima dos normandos, que na ânsia de recrutar homens para sua guerra santa, invadiu seu clã, ameaçou e tomou sua família como reféns, obrigando-o a lutar por sua causa. Guilherme I também chamado William I O Conquistador tomou metade do país para si.1 Doou ¼ das terras para a Igreja e dividiu o restante entre 190 normandos. Seus descendentes até hoje ainda são donos de 1/5 do Reino Unido. A batalha de Hastings, a derrota inglesa e a conquista normanda através de William, que finalmente se tornou o rei, o primeiro rei não-saxão da Inglaterra. A tapeçaria Bayeux é muito presente no filme, praticamente em todo o seu decorrer, ilustrando suas cenas.
1066: The Battle of middle earth descreve essencialmente um fato histórico, não se atendo em riqueza de detalhes, em enredos secundários ou figurinos rebuscados. Nota-se que o figurino é fiel à época, na simplicidade dos trajes dos camponeses e nas pesadas armaduras e armas usadas pelos guerreiros.
Não há uma preocupação em deixar clara a distinção de classes. Pode-se perceber essa similaridade nas roupas das mulheres. O traje das camponesas é o mesmo estilo do traje da nobre normanda, esposa de um nobre líder da invasão. Simples, sem muitos adereços, distinguindo-se apenas a nobreza dos tecidos. O mesmo acontece com os trajes dos guerreiros que passam boa parte do filme trajando armaduras. Não há cenários variados, sendo que o filme se passa praticamente todo nas florestas e campos ingleses, com recriações apenas da vila de Crowhurst.
O filme inicia mostrando a batalha entre os ingleses e os vikings, até então os primeiros invasores, vindos do norte, na batalha de Stamford Bridge, resultando na vitória dos primeiros. Enquanto os ingleses estavam ocupados guerreando contra os invasores do norte, outro inimigo avançava pelo sul, os normandos. Crowhurst, uma vila inglesa situada em Sussex, ao sul da Inglaterra foi a primeira vítima da violência normanda. A vila foi um alvo fácil de ataque, já que naquela ocasião, os homens se encontravam fora guerreando contra os vikings, restando apenas mulheres, crianças e idosos indefesos. A vila fora massacrada, as casas incendiadas, os idosos e as crianças cruelmente assassinados. Uma das crianças consegue fugir e se esconde em uma das casas
preservadas pelas chamas, ali permanecendo enquanto os normandos deixam a vila, levando consigo as mulheres sobreviventes.
O exército inglês, liderado pelo rei Haroldo, encontrava-se fraco, exausto e cada vez mais desfalcado das batalhas anteriores. Muitos homens iam morrendo pelo caminho. Naquela situação, qualquer homem disposto era recrutado, inclusive sobreviventes que outrora eram inimigos. Isso explica a adesão ao exército inglês dos personagens vikings Gyrd, Hakon e Snorri. Os normandos eram conhecidos como orcs que na língua saxã significava monstros, demônios ou estrangeiros, tamanho o temor com que eram vistos. Durante muito tempo a invasão fora cautelosamente planejada, sob a forma de uma cruzada abençoada em nome do Papa. O bastardo Duque William, acreditava ser o legítimo rei da Inglaterra, cujo trono fora prometido pelo próprio Rei Harold através de juramento. Porém, Harold não cumpriu com sua palavra e se apossou-se da coroa. Deste modo, William ordenou que seus soldados de cabeça raspada atravessassem o mar em direção à Inglaterra, colocando nos barcos além de seus guerreiros, muitos cavalos.
Foi uma operação arriscada, visto que a grande maioria da tropa não tinha habilidades marítimas e muitos não sabiam nadar, além de enfrentarem no seu trajeto fortíssimas tempestades. Porém milagrosamente todos os barcos conseguiram chegar ao litoral inglês.
Enquanto isso, durante a travessia dos guerreiros ingleses em direção ao inimigo normando, encontraram na floresta o que denominaram ser uma clara mensagem ameaçadora do inimigo: cadáveres de mulheres da vila de Crowhurst jogados sobre cavalos que pastavam. Pressentindo a desgraça que acontecera, Tofi e Leofric são designados a voltar urgente à vila afim de procurar sobreviventes. Ao chegar, encontram um cenário desolador, com mortos em todos os lados e casas completamente destruídas. Tofi imediatamente procura pela mulher Judith mas ela não está mais ali. Ouvem um barulho vindo de uma das casas e encontram Aelf, a criança sobrevivente que havia se escondido durante o ataque e retornam para junto dos outros guerreiros levando consigo o pequeno.
Durante o retorno Tofi e Leofric encontram as mulheres da vila amarradas em árvores e as libertam, inclusive a esposa de Tofi que se junta à eles na fuga. Muitas mulheres são perseguidas pelos soldados normandos que percebem a fuga e acabam mortas pelo caminho. As sobreviventes conseguem abrigo num monastério. A intenção normanda de
se instalar definitivamente em terras inglesas fica cada vez mais concreta. Fortalezas começam a ser construídas e os navios que os trouxeram são queimados sob ordens do Duque William a fim de garantir que nenhum normando retornasse à sua terra natal.
As cenas decisivas do filme focam na batalha de Hastings. O diretor tem preocupação em tentar passar este momento ao telespectador o mais imparcial possível, sem enquadramentos e imagens tendenciosas, o que poderia facilmente confundir o telespectador, que poderia imaginar que o diretor pudesse demonstrar uma preferência velada, exaltando qualidades dos guerreiros ingleses, seus conterrâneos. Com o massacre das tropas inglesas, os normandos finalmente conseguiram avançar sobre a colina e invadir a Inglaterra definitivamente. O único personagem sobrevivente dos guerreiros ingleses foi Tofi, que retorna ao monastério para resgatar a esposa e o menino órfão e parte para recomeçar a vida em outro lugar, já que não podem mais retornar para sua antiga vila, que tornou-se lar de famílias normandas que começavam a se instalar.
Para tranformá-lo em uma ferramenta de uso didático para ensino em sala de aula, seria interessante relacionar cada etapa da batalha com sua representação na tapeçaria de Bayeux. O próprio filme, nas cenas mais importantes da batalha, faz essa relação, mostrando determinada cena da guerra e ao mesmo tempo situando a mesma na gravura da tapeçaria. Seria interessante fazer com que o aluno identificasse as diferenes formas narrativas das duas linguagens, se conscientizando da pluralidade de opções de se contar a história e, consequentemente, de compreendê-la.

Por Cinthia Stroisch
Aluna do curso de História FAED-UDESC
Turma de História Medieval 2013/2