Idade Média?

“Idade Média”, ”História Medieval” ou “Medievo” são referências a um período da história europeia, compreendido entre os séculos V e XV. Transição da Antiguidade para a Modernidade.
A Idade Média foi um período de intensas transformações. Há um novo sistema econômico, baseado no campo, o feudalismo, que não se aplicara de forma igual em todos os lugares; divisões religiosas, presentes dentro da Igreja Católica e no Islamismo; revoltas camponesas que objetivaram melhores condições de vida; intensas disputas por poder, por ascensão hierárquica; guerras por questões religiosas e econômicas e tantos outros fatores, por vezes ocultos por um saber estereotipado do período, restrito à cegueira mística do domínio religioso ou ao encantamento inventivo da sociedade cavalheiresca, seus castelos, lendas e maravilhas.
Na sociedade contemporânea, há uma grande valorização desse período, sobretudo na indústria cinematográfica. A presença de filmes com essa temática é a cada dia mais comum. E junto com esta “febre de Idade Média” em Hollywood, nascem algumas questões: Em que medida esses filmes nos ajudam a compreender a história medieval? Como devemos assisti-los? De forma passiva, como puro entretenimento? Certamente não. Ou, pelo contrário, como críticos intolerantes, cobrando-lhes a precisão dos textos acadêmicos? Tampouco. Talvez mais do que buscar fidelidade absoluta à historiografia, possamos encontrar nestes filmes faíscas para um debate em sala de aula: que imperfeições merecem ser problematizadas? Quais imagens ajudam a melhor assimilar lógicas distantes de um passado longínquo? Como transcender uma interpretação exclusivamente narrativa dos filmes para ir ao encontro de indícios de sua produção, relacionados, portanto, ao presente em que foram feitos, o que os torna não mais uma forma de historiografia, mas documentos, fontes para uma história do tempo presente.
Conhecer a “Idade Média dos dias de hoje” – a ideia que dela se faz atualmente – é um desafio que pode ser vencido através de um contato mais efetivo com a filmografia que a cerca. Mais do que conhecer as dinâmicas daquele período distante que demarca o nascimento do Ocidente, é preciso questionar também os usos do passado que cercam o “momento medieval” na contemporaneidade.
Por Professor Marcelo Robson Téo,
Lucas Kammer Orsi,
Lucas Santos

Ivanhoé (1952)

Filme: Ivanhoé (1952)
Diretor: Richard Thorpe
País: Estados Unidos
Idioma original: Inglês
Duração:106 minutos
Gênero: Aventura





Sobre o Diretor:
Richard Thorpe nasceu em 24 de fevereiro de 1896 em Hutchinson em Kansas, começou atuando e dirigiu seu primeiro filme em 1923. Foi um diretor conhecido pela sua longa carreira nos estúdios da MGM, participou da direção de mais de 180 filmes, tendo entre eles três filmes com o a temática medievalista, estrelando Robert Taylor, que incluía Ivanhoé (1952), Os cavaleiros da Távola Redonda(1953) e As Aventuras de Quentin Durward (1995). Não possuíam uma interligação, todos eles gravados em estúdios britânicos da MGM, estes filmes ajudaram a construir um imaginário sobre os cavaleiros medievais e seus códigos.

Sobre o Romance que Inspirou o Filme:
Escrito por Walter Scott, o romance conta os esforços do cavaleiro Wilfred de Ivanhoé para resgatar o rei Ricardo Coração de Leão, que havia sido sequestrado por Leopoldo da Áustria. Leopoldo pediu a quatis de 150.000 marcos de prata pelo resgate de Ricardo, logo após a terceira cruzada. O príncipe João mesmo sabendo da condição de seu irmão nega o resgate
O romance surge em 1820 com o objetivo nacionalista de exaltar os valores e códigos dos cavaleiros, e também o heroísmo inglês frente aso franceses. O romance obteve tamanho prestígio que deu ao autor o título nobiliárquico de Sir.

Resenha do Filme:

O filme conta a história do cavalariço do rei, Ricardo Coração de Leão, que é mantido como cativo por Leopoldo da Áustria, que cobra um alto resgate. Ivanhoé (Robert Taylor) tenta conseguir esse resgate com seu pai e os saxões, no entanto tal grupo não dispõe da quantia total. Ivanhoé acaba criando um laço de amizade com um judeu chamado Isaac, pedindo-lhe ajuda para levantar o dinheiro do resgate, assegurando da parte do rei que os judeus teriam um melhor tratamento. Logo depois Ivanhoé é recompensado pela filha de Isaac (Elizabeth Taylor) com uma caixa de joias para que pudesse competir num importante torneio.
No campeonato ele desafia todos os campeões da Normandia, vencendo com facilidade os três primeiros. Ele vence o quarto, mas fica gravemente ferido. Na última luta, enfraquecido, acaba caindo e tem de ser levado para ser cuidado pela filha de Isaac. Querendo escapar do príncipe João, ele é levado a floresta sob o cuidado de Robin Hood. Enquanto isso seu pai, sua noiva (Jean Fontaine), e a filha de Isaac são capturados e mantidos como reféns. Sabendo disso ele se dá em troca da liberdade deles, os normandos não honram sua palavra e mantem todos cativos.
Ivanhoé consegue resgatar todos, menos a filha de Isaac, que é usada como escudo por um cavaleiro normando que se apaixona por ela, logo depois ela é sentenciada a fogueira, porem Ivanhoé invoca o desafio veredicto em que deve lutar com o cavaleiro que se apaixona por ela. Nesse meio tempo é mandado o valor do resgate de Ricardo, o duelo acaba com a vitória de Ivanhoé e com Ricardo voltando para reaver seu trono.

O Filme e a Idade Média

O filme mostra uma visão romantizada da Idade Média, e também dos cavaleiros. É importante frisar que o filme é baseado em um romance que possuía o intuito de exaltar a Inglaterra frente a França, bem como o heroísmo de seus cavaleiros. Essa ideia nacionalista, e de exaltação de valores de outra época foi usado pelo escritor pra mostrar a coragem do ingleses diante aos franceses, ao vencerem o imperador Napoleão Bonaparte na batalha de Waterloo em 1815. Não é à toa que os cavaleiros saxões são mostrados como honrosos e corajosos, exemplo disso é o trecho em que o
protagonista se entrega em troca de seus conhecidos e os cavaleiros normandos não honram o trato. Não faltam no filme insultos aos cavaleiros normandos pela parte do saxões. Não por acaso o filme foi muito bem recebido na Inglaterra.
As cenas de batalhas são lindamente coreografadas, os figurinos são bem detalhados e muito bem feitos. Porém o filme peca um pouco no que diz respeito a contar a história e acaba dando muita atenção ao visual, deixando a desejar nos diálogos que muitas vezes são curtos e com poucas informações, o que altera a lógica de continuidade.
Apesar do protagonista, Ivanhoé, é interessante lembrar que os personagens coadjuvantes muitas vezes desempenham um papel crucial na história como por exemplo Robin Hood e também o cavaleiro templário normando Bois Guilbert que seria o principal rival de Ivanhoé.
O filme acaba sendo um daqueles clichês de hollywood, a narrativa clássica com mocinho vilão e donzela, e apesar de não ser tão preciso historicamente principalmente pelo fato de ser baseado num romance do século XIX, ele ainda serve para nos mostrar o imaginário criado acerca da época e também dos códigos de conduta da sociedade cavaleiresca.
Este filme pode ser uma ótima ferramenta em sala de aula, uma vez que nos ajuda a enxergar as apropriações contemporâneas da Idade Média, sejam elas campeonatos de lutas medievais, restaurantes temáticos entre outras apropriações do passado, nos mostrando que não só do passado se ocupa história mais também de suas apropriações no tempo presente.


CURIOSIDADE: O filme teve três indicações ao Oscar de melhor filme, melhor cinematografia, melhor música e também dois prêmios do globo de ouro como melhor trilha sonora e também por promover a paz entre os povos. Para maiores informações sobre a sociedade cavalheiresca, ver DUBY, Georges. A sociedade cavalheiresca. São Paulo: Martins Fontes, 1989.



Por André Vinicius Durante Piva
Aluno do curso de História FAED-UDESC
Turma 2013/1