Filme: Alexander Nevsky (1938).
Diretor: Serguei Eisenstein e DmitriVasilyev (diretor adjunto, colocado pelo governo)
Fotografia: Eduard Tisse (fiel companheiro de Eisenstein).
Trilha Sonora: Serguei Prokofiev.
País: URSS (Rússia).
Idioma original: Russo.
Duração: 111 minutos (oficial), 108 minutos de filme.
Gênero: Drama Histórico.
Sobre o diretor:
“Não é surpreendente,
(...) que a
natureza afirmativa
de Eisenstein o
tenha levado
para a esfera do
cinema”.
Vinicius de Moraes.
Serguei Eisenstein
(1898 – 1948), foi um diretor e teórico de cinema. Ganhou fama mundial pelo seu
estilo vanguardista experimental, pioneiro nas superproduções soviéticas da
época, portanto revolucionário para a história do cinema, trazendo junto a seu
estilo experimental técnicas até então não exploradas pela arte
cinematográfica. Em “Outubro” (1928),
retrata através da revolução bolchevique de 1917 o espírito revolucionário de
sua geração. Seu filme mais aclamado pela crítica e público, e também sua mais
influente produção é “O Encouraçado
Potemkin”,produzido em 1925 para comemorar os vinte anos do levante
ocorrido na cidade de Odessa contra o Czar Nicolau II, a prévia da revolução
russa.
Eisenstein
estudou engenharia e arquitetura, a primeira era a profissão de seu pai, que
mais tarde fez parte do exército branco. Junto a seus colegas da época decidiu
fazer parte do exército revolucionário vermelho, o que o distanciou de seu pai,
que, após a revolução, foi para a Alemanha. Sua mãe já havia anos antes partidos
para França. Dentro do exército, conseguiu prestigio após usar de sua
criatividade artística para produzir filmes pró-revolução, como “A Greve” (1924). Eisenstein era
comunista, mas em variados momentos se mostrou em posição crítica em relação ao
governo stalinista.
Filmografia
(Como
diretor e roteirista):
1923
Diário de Glumov (curta)
1925
A Greve
1925
O Encouraçado Potemkin
1927
Outubro: Dez Dias que abalaram o mundo
1929
A Linha Geral ou "OldAnd New"
1930:
Romance sentimental (França)
1932¡Que
viva México! lançado em 1979
1937
Bezhin Prado
1938
Alexander Nevsky
1944
Ivan o terrível, parte I 1945 Ivan O Terrível, Parte II
Sobre
a lenda medieval que inspirou o filme:
A
dois pontos principais que interagem de forma essencial dentro da
historiografia retratada no filme, que são, a lenda de Alexandre
Nevsky(1220–1263), príncipe russo,
quarto da linhagem real portando dificilmente seria rei, mas o povo de
Novgorod convoca Alexandre para ser o líder militar contra a invasão dos
suecos, no entrave militar que ficou conhecido como Batalha de Neva(1240). As
tropas russas vencem a batalha em menor número e Alexandre ganha prestígio,
tornando-se príncipe de Novgorod. Ganha a alcunha de “Nevsky”, devido a Neva
(Rio onde ocorreu a batalha com os suecos).
Considerado santo posteriormente pela igreja ortodoxa (e devido ao
movimento ecumênico também se tronou santo católico), liderou a pátria russa
durante certo período da baixa Idade Média, preservando o caráter ortodoxo da
religião cristã em território russo.
Herói
do povo de Novgorod, Nevsky desperta inimizade dos aristocratas da região (os
chamados boiardos, grandes latifundiários e principais legisladores do
Principado de Kiev), isso resulta no abandono de Alexandre para outras terras.
Porém com a possível invasão dos Cavaleiros Teutônicos germânicos, o povo de
Novgorod clama pela volta de Alexandre. Pouco mais de um ano de seu exílio ele
retorna para derrotar os Cavaleiros Teutônicos. Livra o povo russo da expansão
católica, revolucionando as táticas de guerrilha, derrotando cavaleiros bem
protegidos e montados através de sofisticadas táticas de sitiamento. Alexandre
Nevsky se torna uma lenda nacional, o principal “herói” da Idade Média russa.
Resenha do filme:
Após
a invasão mongol (retratada logo no início do filme, onde um representante
mongol oferece um cargo de liderança dentro da “Horda Dourada” a Alexandre, e
ele o recusa), e a batalha contra a invasão ao norte dos suecos, Alexandre
Nevsky se exila com um grupo de ex-militares. A invasão de Pskov pelos
Cavaleiros Teutônicos Germânicos estava em curso. Esses pretendiam espalhar o
poder territorial e expansão do cristianismo católico, marchando rumo a
Novgorod, porém a população da cidade clama pela volta de Alexandre Nevsky, e
que ele lidere as tropas russas em uma batalha contra os germânicos.
Eisenstein,
que já havia dirigido filmes de configuração nacionalista, como “Outubro”,
estava acostumado a enfatizar o orgulho socialista russo. Porém seus filmes até
então retratavam histórias de um passado muito próximo e com relações diretas
com a realidade contemporânea da época (não que os ocorridos por Nevsky não
tinham, e tenham importância hoje). Eisenstein nessa obra novamente pretendia
fazer um ponto com o contemporâneo (possíveis invasões do território russo por
alemães nazistas liderados por Hitler), mas de forma diferente, resgatando
outro conflito entre os antepassados desses mesmos dois povos, Russo (agora
socialistas soviéticos), e germânicos (agora nazi-fascistas).
Nesse
filme percebe-se uma diferença no trabalho de Eisenstein, menos experimental e
vanguardista e mais romântico, ocidental, convencional (partindo do ponto
também ocidental de cinema ligado a lógica de mercado comercial). O diretor
destaca a imagem do herói russo, Nevsky, o exemplo a ser seguido pelo povo
soviético, exemplo de resistência e vitória, aspecto bastante utilizado pelo
cinema estadunidense.
Para quebrar o clima de ligação ofensiva direta com os conflitos contemporâneos, Eisenstein traz ao seu filme o romance, dois cidadãos de Novgorod, que ganham importante patente durante a batalha, lutam pelo coração da donzela amada, porém apenas um dos citados termina o filme como par romântico dela, enquanto o outro inicia uma relação com uma quarta personagem, que havia perdido seu pai após a invasão teutônica, e decide com bravura lutar entre o exército composto por homens.
É interessante destacar três pontos fora do eixo narrativo central do filme. Primeiro a forma como Eisenstein relacionou o cristianismo ortodoxo com sua perspectiva de estado soviético laico contemporâneo, são raras às vezes, dentro do filme, em que se relaciona o cristianismo (de qualquer natureza) com a imagem de Alexandre Nevsky, ou dos combatentes russos. A não ser no final do filme, antes do discurso final de Nevsky, e as comemorações da vitória, nesse momento surgem à imagem do crucifixo, e de uma tradição oratória cristã, mas de forma bem passageira e com pouco destaque.
Para quebrar o clima de ligação ofensiva direta com os conflitos contemporâneos, Eisenstein traz ao seu filme o romance, dois cidadãos de Novgorod, que ganham importante patente durante a batalha, lutam pelo coração da donzela amada, porém apenas um dos citados termina o filme como par romântico dela, enquanto o outro inicia uma relação com uma quarta personagem, que havia perdido seu pai após a invasão teutônica, e decide com bravura lutar entre o exército composto por homens.
É interessante destacar três pontos fora do eixo narrativo central do filme. Primeiro a forma como Eisenstein relacionou o cristianismo ortodoxo com sua perspectiva de estado soviético laico contemporâneo, são raras às vezes, dentro do filme, em que se relaciona o cristianismo (de qualquer natureza) com a imagem de Alexandre Nevsky, ou dos combatentes russos. A não ser no final do filme, antes do discurso final de Nevsky, e as comemorações da vitória, nesse momento surgem à imagem do crucifixo, e de uma tradição oratória cristã, mas de forma bem passageira e com pouco destaque.
O
segundo ponto, em oposição ao primeiro, diz respeito à imagem dos cavaleiros
Teutônicos passada ao espectador. Todas as cenas que fazem referenciam ao lado
germânico, o aspecto católico é retratado com contundência e de forma bastante
obscura e maléfica, com uma perspectiva de filmagem mais lenta e centralizada
na famosa cruz dos cavaleiros das cruzadas.
E
por fim o aspecto sonoro do filme, destacando o trabalho de Serguei Prokofiev,
um dos maiores compositores da era soviética. O filme segue com poucas falas, e
as tomadas que reverenciam a paisagem são longas. Prokofiev faz um trabalho
sonoro incrível, em todos os momentos que não há fala no filme passa ao
espectador a sensação idealizada para
cada cena, agindo de forma conjunta com a imagem. Na primeira aparição dos
germânicos a trilha traz um aspecto de horror constante, nas aparições de
Nevsky, um som mais sereno e tranqüilo. Na guerra o som é constante, o que traz
o aspecto de rapidez aos acontecimentos.
Após
acordo assinado entre a URSS e a Alemanha Nazista em 1939(Pacto
Ribbentrop-Molotov), o filme é tirado de circulação, por ameaçar o clima de paz
entre essas nações. Mas volta às prateleiras e à circulação mundial de forma
ainda mais ferrenha, após a invasão nazista ao território soviético em 1941.
Nevsky
entra para a história ao derrotar o exército Teutônico, estabelecendo a paz e a
interna ortodoxia cristã nacional. Na invasão nazista de 1941, o objetivo
alemão de chegar a Moscou não é alcançado, mesmo que a Alemanha por hora tenha
dominado a Ucrânia, importante parte econômica soviética. O resultado foi à
vitória das tropas vermelhas soviéticas, havendo, portanto, certa correlação
histórica, no que diz respeito ao nacionalismo russo e o ideal socialista, os
objetivos de resistência da segunda batalha retratada, e os objetivos do filme
de Eisenstein.
É um ótimo filme para se trabalhar em
sala a temática medieval, ligada as guerras santas, assim como uma temática
mais atual, trançando um paralelo entre a lenda de Nevsky e as turbulências
políticas soviéticas no século XX, assim como propôs ao idealizar o filme o
próprio Eisenstein. Utilizar a ficção histórica como fonte de pesquisa
acadêmica necessita sempre do exercício de problematizar duas temporalidades:
aquela da qual trata o filme e a que o filme foi realizado.
Por Gabriel Medeiros
Aluno do curso de História FAED - UDESC
Turma de 2013/1